sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Canções Estradeiras


Dia desses me bateu uma vontade louca de trocar minha motinho por uma moto decente, chopper estradeira e tal. Aí você vai pensar na vida, nas contas e vê que é foda. Agora, os caras vão começar cobrar pedágio das motos também. As estradas são ruins e perigosas. No fim das contas, a grana é curta e acho que vou ficar aqui babando só na vontade de viver meu “Easy Rider” caboclo.
De qualquer maneira, ao pensar nisso, acabei fazendo uma lista de canções estradeiras que posto abaixo. A escolha é meio óbvia, mas de algumas delas não tem como fugir.

1 – Iron Horse – Motorhead (na versão ao vivo do “No Sleep til Hammersmith”)
2- Highway Star – Deep Purple (na versão original do “Machine Head”)
3- Highway 49 – Howlin´ Wolf (versão das “London Sessions”, com Eric Clapton, Steve Winwood e tal)
4- Ride On – AC/DC (Bon Scott, emocionante até hoje)
5- Southbound – Allman Brothers (do disco “Brothers and Sisters”)
6- Why Don´t We Do It In The Road – The Beatles
7- Sitting On The Road Side – Arnaldo Baptista e Patrulha do Espaço (a melhor versão é a do “Elo Perdido”. Esqueci o título em português)
8- Route 66 – Rolling Stones (a versão do primeiro disco)
9- Fricção – Inox (raridade do metaaaaal nacional dos anos 80)
10- The Passanger – Iggy Pop (pau no cu do Capital Inicial)

Dada a obviedade da primeira lista, acabei tendo vontade de fazer uma outra lista (bateu um momento “Alta Fidelidade” hoje). Desta vez as escolhidas foram canções boas de ouvir na estrada, independentemente dos temas. A lista segue abaixo, quem não gostar que faça o favor de sugerir as suas.

1- Love Her With a Feeling – Freddie King (foda!)
2- Never Before – Deep Purple (também do “Machine Head”)
3- Stacker Lee – Dave Von Ronk (fodíssima)
4- I´ll Get By – Crazy Horse (do disco de 1971 da banda que acompanha o Neil Young)
5- With a Woman – Howlin´ Wolf (acho que o Steve Ray Vaughan gravou essa música com o nome de “I´m Leaving You”. A versão do Lobão Uivante é melhor)
6- Lousiana Black Dog Moses - Mark Olson and the Creekdippers (puta banda, pouco conhecida. Uma das melhores coisas de “alt country” que já ouvi. Essa música é fudida.)
7- She´s So Fine – Jimi Hendrix Experience (pérola do “Axis Bold as Love” cantada pelo Noel Redding)
8-The Same Thing – Muddy Waters (música do Willie Dixon)
9-Return to Sender – Mojave 3 (daquele disco bonitão…acho que o nome é “Excuses for Travellers”
10-Lonesome Town – Paul Macartney (baladaça que tem no “Run Devil Run”)

Porra, fazer listas é gostoso pra caramba. Me fez lembrar o hábito pré-histórico de selecionar canções para as velhas fitinhas cassete. Olha a síndrome de “Alta Fidelidade” novamente... Quem sabe não invento novas listas nos próximos posts. Por hoje chega.

sábado, 12 de setembro de 2009

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Walter Franco

Vi shows maravilhosos do cara.
Tô sentindo falta de ver outros.
O post é pra matar saudades.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Frank Jorge é foda



Esqueça o sonolento Nenhum de Nós e os pretensiosos Engenheiros do Hawai. O que faz o rock do Rio Grande do Sul importante no cenário roqueiro nacional são nomes menos conhecidos por aqui, mas que somam atitude, humor e ótimas referências para fazer rock de qualidade. Eu falo do trovador Julio Reny, do rei do punk-brega Wander Wildner e do poeta pop multinstrumentista Frank Jorge, que lançou no finalzinho de 2008 seu terceiro CD solo.
Frank é um veterano da cena gaúcha. Integrou grupos fundamentais do rock dos pampas como os Cascavelletes, a Graforréia Xilarmônica e os Cowboys Espirituais. Produziu o ótimo CD de estréia dos The Darma Lovers e teve suas canções gravadas por nomes consagrados como os grupos Ira e Pato Fu.
Intitulado simplesmente “Vol.3”, o novo CD sucede o fundamental “Carteira Nacional de Apaixonado”, lançado em 2000, e o pouco lembrado “Vida de Verdade” de 2003. Assim como nos seus dois trabalhos anteriores Frank Jorge elabora seu coquetel roqueiro à base de rock´n roll básico, new wave, psicodelia, humor, ironia, romantismo e imensas doses de jovem guarda, sua principal influência. Tudo isso estruturado com versos elegantes e ótimos refrões.
“Elvis”, a faixa de abertura, pode ser considerada uma síntese do trabalho, com seu refrão espirituoso e de uma verdade “inapelável e crudelíssima”, como diria Nelson Rodrigues: “Elvis na fase decadente/ É bem melhor que muita gente”.
A irônica metralhadora verbal do gaúcho aponta até para o próprio trabalho em “Obsessão anos 60”, em que ele canta sobre uma base totalmente “jovem-guardística” “Não suporto mais esta obsessão pelos anos 60/ Não consigo explicar/ Só sei que ninguém mais aguenta”.
“A Historiadora” é a impagável história de uma acadêmica sisuda que vive entre teses e pesquisas científicas, mas que guarda escondida no armário uma fita do filme erótico japonês “O Império dos Sentidos”.
Uma das minhas preferidas é a balada “O que sobrou do mundo”. Para variar a estrutura musical é jovem guarda pura, mas ao invés das declarações de amor adolescentes semelhantes às que cantavam o Tremendão Erasmo Carlos, a Ternurinha Wanderléia ou o Rei Roberto, aqui o cantor tece cenários típicos da classe média brasileira, às voltas com problemas financeiros e tédio no casamento. “Um dia, se o salário melhorar/ Meu plano é viajar/ Levando as crianças/ Um cadeado vou botar no frigobar”.
O tema do amor desgastado também está na ótima “Não Espere Mais Nada”. Mistura de Beatles e Roberto Carlos, tem uma deliciosa melodia e a letra esperta com versos como “Nossa vida nos primeiros tempos foi muito boa/ Saímos no tapa e depois recitamos um Fernando Pessoa”. O rockinho “Se Você Ainda Me Quiser” é outro rock´n roll a lá jovem guarda que encerra o CD de forma classuda.
Curiosidades: Frank Jorge já trabalhou na Secretaria de Cultura da cidade gaúcha de São Leopoldo. É poeta, apresentador de TV, professor universitário na Unisinos, onde leciona no curso de formação de produtores e músicos de rock, do qual é criador. Em “Vol. 3”, ele toca todos os instrumentos.
Esqueça a coleção de clichês acéfalos da Pitti ou dos tais Fresnos e NXs. Se você estiver afim de um bom disco de rock nacional, bem produzido, com letras inteligentes, românticas e engraçadas, Frank Jorge é o cara.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Hoje - o avesso da parolagem



Hoje não quero ter
Nem ser
Nem ir adiante
Esquivo
Aflito
Calado
Suspeito de todas as palavras

Sem mover um músculo
Sem ponto de partida
Evito negociar
Costuro a boca dos filósofos
Corto a língua dos holísticos
Hoje nada
Fechado
Singular

domingo, 30 de agosto de 2009

Noite


Foto de Aline Grego

sábado, 29 de agosto de 2009

A parolagem da vida

Palavras ao léu. Parolagem na tarde. “Sempre” é uma palavra comum. Já a expressão “para sempre” dá um certo medo. Uma coisa que não sei bem o que é. O avesso dos contos de fada com o “viveram felizes para sempre”. Fico pensando em alguém preso para sempre no inferno ou emparedado. Emparedar, tudo preso entre cimento e tijolos. Tudo. Corpo e alma. E a alma é uma coisa que dá medo de ter presa. Por isso “para sempre” é uma expressão foda. Mas se a gente analisar mesmo é só papo porque tudo é transitório.
Tudo é impermanente, palavra que essa merda de Word não reconhece. Tudo passa. O homem é transitório. Tudo que está aqui ao meu lado nesta sala vai sumir. A sala bonita que planejamos vai sumir. O piso caro, a mesa bonita, as paredes de um tijolo, a lareira pintada de vermelho com o decalque dos Beatles. Os quadros do Taxi Driver e dos filmes do Almodóvar. Um dia essas paredes que parecem sólidas não existirão. A televisão e toda a merda que passa por ali vão sumir. As coisa legais também vão. Cara, o Faustão é passageiro. Embora meu pessimismo crônico às vezes me faça duvidar disso.
Revi, dia desses, uma edição do programa Fábrica do Som em que o Claudio Willer leu um trecho do “Uivo” do Ginsberg. Falou-se sobre a beat generation. Apareceu o Leminski perguntando se beatinik era algum dissidente soviético. Escrevo ouvindo La Carne, “Demônio Triste”. É realmente uma boa banda. Pesada. “Jukebox” é uma boa música.
Também vi o Raul Seixas na Fábrica do Som. Falou-se muito do Raul nas últimas semanas pois fez 20 anos da morte dele. Na Fábrica ele dublou. O público ficou alucinado quando Tadeu Jungle anunciou Raul. Então ele entrou de botas, calça e jaqueta de couro e dublou “Punct Plact Zum” e “DDI”. Parte do público ficou puta com a dublagem. Mas parte dançou e aplaudiu loucamente o maluco beleza, mais maluco do que nunca ao fazer uma performance “fake” deslavada para um público jovem e meio inquieto.
Raul era pura bagaceira, fuleiragem. Dava na cara do bom gosto. “Tudo o que não é americano em Raul Seixas é bahiano demais”, disse Gil ou Caetano, sei lá. Penso também no sentido da palavra baiano para os paulistas, algo brega de mau gosto. Raul é isso também. É sub. É da empregada. E é bom rock´n roll. Cada vez acho melhor.
Tudo é transitório. Lembro que quando Raul morreu eu e o Txélos ficamos ouvindo o Krig-Há Bandolo emocionados e quase tristes nos nossos dezesseis anos. Tudo é transitório. Mas o brado dos bêbados, dos chatos, dos velhos malucos sem noção e, por incrível que pareça, de outros adolescentes meio “gauche” na vida como nós fomos, vai ficando por aí. Toca Raul porra!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Minuto de sabedoria


Neste lugar solitário
onde a vaidade se acaba
todo covarde faz força
todo valente se caga

(Em "Desabrigo", de Antonio Fraga)

sábado, 15 de agosto de 2009

“A Primavera do Gato Amarelo” - Para os velhos roqueiros



No último CD do bardo podreira Wander Wildner “La Canción Inesperada” há uma canção chamada “O Reverendo do Rock Gaúcho” em que ele cita as bandas e os músicos da pré-história do rock dos pampas lá no início dos anos 80, quando o próprio Wander cantava nos Replicantes. Na canção ele diz que Julio Reny ainda anda por aí com seu violão modelo Elvis Presley.
De fato, nos anos 80, se falava bastante em Julio Reny e sua banda Expresso do Oriente na finada Revista Bizz. Naqueles tempos pré-internet até deu pra saber da existência de Reny, mas não consegui ouvir seu som.
Fui conhecer o trabalho de Julio Reny com o grupo Cowboys Espirituais que chegou até a fazer algum sucesso radiofônico com a canção “Jovem Cowboy”. O primeiro disco do grupo integrado por Reny e outros veteranos do rock gaúcho como Frank Jorge e Ney Van Soria é sempre uma boa opção para ouvir na estrada ou num dia feliz de outono. Country rock leve e bem humorado.
Só recentemente, ao ler na net sobre “A Primavera do Gato Amarelo”, fui buscar o trabalho solo de Reny. Baixei o disco, ouvi, gostei e baixei os anteriores também. Mas “A Primavera...” é um disco que tenho ouvido cada vez mais. É um rock maduro, fácil, inteligente, leve que evoca histórias e momentos passados em letras e sonoridades. Um prato cheio para quem é viciado em ser nostálgico, como eu. Confesso: falou ao meu velho coração roqueiro que às vezes fica lá escondidinho debaixo das obrigações profissionais ou da vontade/necessidade de conhecer novos sons ou manifestações artísticas.
Reny é um trovador roqueiro que carrega tudo que um personagem deste tipo requer. Uma voz estranha, um som de violão com cordas de aço, letras legais, bons refrões, boas referências e um clima estradeiro indefinível, mas que o pessoal que ouve rock vai sacar no ato.
O CD abre com “O Segundo Fim”, jovem guarda pura, com aquele acento brega que os gaúchos adoram tanto (vide Frank Jorge e o próprio Wander Wildner). A música trata do fim de um relacionamento, fato que, segundo entrevistas de Reny, ocorreu mesmo durante o processo de composição das canções de “A Primavera...” embora isso não signifique um disco triste. Na letra ele pede “Ainda preciso de você/ Eu preciso de um segundo fim”.
“Linda Menina” trata da simples alegria de estar andando pela rua com a cabeça ocupada pelas preocupações do cotidiano e se deparar com a garota mais linda da cidade “de vestido apertado e sandália rasteira”. Pra combinar com o momento, um rockinho alegre conduzido por piano e slide guitar.
O momento mais beatle do CD é “Chegou a Primavera”, alegre brincadeira a lá “Penny Lane”, com flauta e cantos de passarinhos, celebrando as cores e as flores da estação em que as mulheres levitam no ar como “a menina feliz a mostrar/ Sua mais nova penugem para o sol dourar”.
“Noite em São Sepé” é a minha preferida. O som é legal, mas a letra é uma delícia. Um encontro de velhos amigos para ouvir rock antigo numa madrugada fria. “Eu e meus amigos embriagados de saudade/ Na madrugada tão distante/Se a cruzada terminou/ Serei um cavaleiro andante”. Porra! A música me fez lembrar milhões de histórias e pessoas queridas. Queria que esses amigos ouvissem a faixa. Acho que iriam entender.
Na sequência vem “Outra Vez”, um bom refrão com aquela cara de música de Nando Reis. Aliás, para quem não conhece o som do Reny, talvez essa seja mesmo a melhor referência. Um rock suave, com toques folk e pop. No entanto, o trovador gaúcho soa aos meus ouvidos menos pretensioso e mais verdadeiro. “Noite de Ingleses” e “Faltou Tempo de Escrever” também são boas. A segunda resvala no romantismo/jovem guarda novamente.
“Invisível” é o desejo/obsessão pela mulher amada que faz o personagem da canção desejar ser invisível para olhar por ela 24 horas por dia. Desde observar o banho, fazer carinhos durante o sono até estragar as noites com os outros. E eu pergunto, meus caros: quem nunca sonhou com isso? O solinho brega de saxofone não atrapalha. Até dá um climinha mais anos 80.
A versão rock´n roll de Pasárgada chama-se “Gloca Morra”. Lá, por ser amigo do rei, Julio Reny, desfruta da gentileza das garotas, dos verões eternos e dos drinks infindos, joga bilhar com os amigos e desperta todos os dias sem louça pra lavar.
“Tenha Fé” talvez até seja legal, mas o fato de ter a participação de Humberto Gessinger faz tudo ficar com cara de Engenheiros do Hawai e...bom, melhor pular a faixa.
O disco termina com “Two Tones” rock´n roll saboroso e declaração da profissão fé do Reny. Lembrei de algumas coisas do disco “Panela do Diabo” do Raul Seixas e Marcelo Nova. É isso. Nada vai acabar “enquanto eu dançar com meus sapatos two tones”.
De uma certa maneira, “Two Tones” é uma síntese do disco. Deixando o peso dos anos e os demônios do cotidiano ainda dá pra ter os sonhos, principalmente se embalados por bons riffs de guitarra.
Enquanto espero os comparsas darem as caras para nossa próxima “Noite em São Sepé”, reafirmo minha condição de cavalheiro andante e vou ouvir Julio Reny. E chega.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Mellow My Mind

Meu irmãozinho Pedro, que vive flanando por Berlim, mandou esse e-mail que eu tomo a liberdade de reproduzir aqui. E assino embaixo.

Fubá querido,
hoje acordei cantarolando Neil Young,
pensando como só ele pode cantar certos versos
que em outras vozes soaria piegas ou artificial
e com ele é sentimento puro. Enfim pensando
em como é cara é foda. Em como no próximo
show dele aqui eu nao vou perder mesmo.
Todo ano ele vem aqui. Fui procurar no youtube
a lindíssima "Mellow my mind" que naquele disco
"Tonight`s the night" ele canta de forma inesquecível,
com aquela desafinada feeling que ele dá no meio.
Eis que encontro uma versao banjo-gaita que ele fez,
no show que ele deu aqui no ano passado. Veja só
que pérola:

terça-feira, 28 de julho de 2009

Exposição fotográfica "Casa de Avós"


Fotos da jornalista Aline Grego. No Museu de Arte Contemporânea Itajahy Martins, em Botucatu, de 1 a 22 de agosto.
As fotos estão lindas.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

terça-feira, 21 de julho de 2009

Quase nada



Os caras são muito bons. Fabio Moon e Gabriel Bá. Confiram.
http://10paezinhos.blog.uol.com.br/

domingo, 19 de julho de 2009

Várias coisas a terra cobre,
Boas e ruins,
Até que alguém revolve.
Aqui há coisas que eu não entendo,
Nunca vi.
Outras eu acho chatas.
Num dia de frio,
Invadem minha tranquilidade
Em minha casa há coisas demais
Objetos inúteis
Papéis com todos os tipos de certificações
Coisas
Arrasto comigo uma carga de gente, de coisas, de expectativas
Convenções, palavras, sons, frustrações, horas perdidas.
Tudo isso vem junto
Grilhões, galés feitas de acordos que eu não fiz
E inabilidade.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Movimento dos Barcos

O que dizer dos movimentos. As coisas passando e eu quero passar com elas. Grandes amigos, os melhores, estão por aí em outras cidades, em outros países. Mas é interessante como ficamos torcendo de longe. Eu já rodei um pouco por aí e sei que estar fora do ninho faz um bem danado para a percepção que temos do mundo. Com todos os perrengues, a saudade e tal, a sensação é a mesma de percorrer uma estrada nova, aberta e que você acabou de encontrar e sabe que vai te levar a algum lugar legal.
Ouço Van Morrison cantando alguns clássicos do jazz. Tenho vontade de dividir alguma bebida com alguém bom de papo. Alguém que saque na hora como o Van Morrison é um cantor absurdamente bom. Como ele carrega na emoção na dose certíssima. Hoje ouvi o Astral Weeks no carro. Quem não se emociona ouvindo aquilo é ruim da cabeça ou doente dos ouvidos e do coração.
Van Morrison combina com o frio. Já gostei do frio. Muito. Mas agora ando ficando de saco cheio. Não consigo vencer a sequencia interminável de gripes e resfriados. Ver meu filho com pneumonia também foi (tem sido) uma puta experiência desgastante.
Bom... se alguém leu até aqui sabe que esse post é sobre absolutamente nada. É o meu jeito de falar de som e tal. Um intervalo da rotina de trabalho que anda pesada e do vazio de idéias que é o que sobra neste atual deserto de papos sobre novela, doença, trabalho e tal. Ando sentindo falta de estudar de novo, mas a preguiça é soberana.
No fim das contas é só tédio. Não sou eu quem vai ficar no porto chorando. Mas, por enquanto, eu fico.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Tiê - Sweet Jardin



A menina de sorriso encantador já está aparecendo em algumas vinhetas da MTV. Isso porque, além de influenciada pelos cânones da MPB, notadamente a delicadeza e a leveza da bossa nova, a cantora Tiê também imprime uma marca autoral ao seu trabalho que a aproxima do cenário da música folk norte-americana, atual paixonite dos adolescentes “indies”.
“Sweet Jardim” é o título do primeiro disco desta cantora de 28 anos, com nome de passarinho escolhido, segundo ela, por sua mãe hippie. Outra curiosidade familiar: Tiê é neta da atriz Vida Alves, a primeira a dar um beijo na televisão brasileira.
Tiê já tem alguma experiência na música. E nas duas vertentes que mais aparecem no seu trabalho: a MPB e o chamado folk rock alternativo. Por dois anos acompanhou Toquinho cantando com ele os grandes clássicos do seu repertório, como as músicas compostas juntamente com Vinícius de Moraes. Ao mesmo tempo, cantava nas madrugadas de algumas casas de shows alternativas de São Paulo, um repertório mais “maldito”, recheado de canções de cabaré de Kurt Weil, Bertold Brecht e Tom Waits.
Foi nesse período que a cantora foi se descobrindo também compositora. E “Sweet Jardim” é inteiramente autoral. Ela canta, toca piano e violão, em dez faixas gravadas ao vivo, ao estilo low-fi, ou seja, da maneira mais suave e delicada que você conseguir imaginar.
As canções são muito simples e com letras absolutamente pessoais, escritas em inglês, francês e português. Há participação do violão de Toquinho na faixa título que encerra o CD. A bela capa foi concebida pela estilista Rita Wainer.
As quatro primeiras faixas, ”Assinado Eu”, “Dois”, “Quinto Andar” e “Passarinho”, são baseadas na voz delicada e no violão simples tocado por Tiê. Sei que é sacrilégio, mas a sonoridade minimalista e o tom romântico/desamparado me fizeram lembrar as canções do “Songs of Leonard Cohen”, guardadas as devidas proporções e considerada a densidade poética do trabalho do bardo canadense.
“Aula de Francês”, para mim a melhor do CD e “Stranger But Mine”, também são baseadas no violão, mas a estrutura, o ritmo e os arranjos se aproximam mais do folk. É como se Tiê fosse uma Malu Magalhães mais adulta e com menos produção.
Tiê toca piano na bela “Chá Verde” e em “A Bailarina e o Astronauta”. Sua execução é tão simples quanto a do violão. Nestas duas, as letras ficam em destaque.
“Sweet Jardim” é produzido pelo produtor, músico e DJ carioca Plínio Profeta. Para quem não se lembra era um maluquinho que, há uns dez anos, fez sucesso na MTV com uma música detonando Adriane Galisteu. Plínio cresceu e hoje é multiinstrumentista, que toca baixo, cavaquinho, guitarra, teclados e programações, e assina a produção de discos de artistas como Lenine, Pedro Luís e A Parede, Fernanda Abreu, e é responsável por remixes nacionais e internacionais de canções de nomes como Titãs, Kid Abelha e Madonna. Ele teve o grande mérito foi despojar o som de Tiê de efeitos e truques de produção. É como se o passarinho cantasse na sua janela, numa manhã de outono. Vale ouvir.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

sábado, 30 de maio de 2009

Gulliver é brasileiro?

Disse o rei para Gulliver, após ouvir sobre como as coisas funcionavam na velha Inglaterra:

“Fizestes o mais admirável panegírico de vosso país; provastes à sociedade que a ignorância, a ociosidade e o vício são os ingredientes adequados à qualificação de um legislador; que as leis são melhor explicadas, interpretadas e aplicadas por aqueles cujo interesse e habilidade consistem em as perverter, confundir e iludir. Observo entre vós alguns traços de uma instituição que poderia ter sido, originariamente, toletrável, mas cuja metade está quase apagada, ao passo que o resto foi inteiramente obliterado pela corrupção. Não transparece, em quanto dissestes, que se exija uma única perfeição para alguém que atinja uma posição qualquer entre vós; e muito menos que os homens sejam enobrecidos em razão da sua virtude; que os sacerdotes sejam promovidos pela piedade ou pelo saber; os soldados, pelo procedimento ou pelo valor; os juízes, pela integridade; os senadores, pelo amor à pátria; os conselheiros, pela sabedoria. Pelo que vos toca”, prosseguiu o rei, “a vós, que passastes viajando a maior parte da vida, inclino-me a pensar que tenhais, até agora, escapado a muitos vícios do vosso país. Mas, pelo que depreendi do vosso próprio relato e das resposta que, tão penosamente arranquei e extraí de vós, não posso menos de concluir que a grande maioria dos vossos semelhantes é representada pela mais perniciosa raça de pequenos e odiosos insetos que a natureza já permitiu rastejassem na superfície da Terra”.

Parece um lugar que eu conheço...

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Germano Mathias

“Por onde andará Germano Mathias? Magro, irrequieto, sarará, sua ginga da Praça da Sé, jogo de cintura da crioulada da Rua Direita? E o que foi que fez, maluco, azoado, de seu samba levado na lata de graxa?” Assim começa o belo texto “Abraçado ao Meu Rancor”, no livro do mesmo nome, escrito por João Antonio, cronista do submundo das grandes cidade brasileiras.
Pois é... Germano andou por aqui neste final de semana e tive o prazer de passar umas boas horas batendo um papo quase surreal com o catedrático do samba. Aos 75 anos de idade “corpo limpo, sem varizes e afogando o ganso como se fosse o pavão misterioso”, Germano é daquele jeito que vemos na televisão ou no DVD Ginga no Asfalto. Fala pelos cotovelo, emenda uma piada na outra, a maioria de duplo sentido.
Esse foi o lado A da conversa. O lado B foi uma inusitada palestra sobre reencarnação, lei do carma, resgate, umbrais e todo o tradicional discurso kardecista. Germano e o lendário Ventura Ramirez, um dos mais importantes violões de 7 cordas de São Paulo, fizeram uma conferência que daria inveja ao Chico Xavier.
Depois do papo pornô-espírita, Germano, acompanhado por Ventura, o mestre Osvaldinho da Cuíca, além de dois músicos jovens no cavaquinho e na percussão, deram aquele show saboroso, recheado de sambas sincopados, piadas e samba no pé. Com a lata de graxa e tudo. Inesquecível. Aline fez as fotos abaixo.
De resto, deixo as palavras do João Antonio: “Já Germano Mathias repinicava na lata de graxa escarrapachadamente, samba subido ou descido da Barra Funda, do Largo da Banana, da Alameda Olga, com escala posterior pelos Parques Peruche. A lata de graxa dá um som mais fraquinho, estridente, que não é o da frigideira. Som oquinho, moleque, serelepa algo debochado, catimbado. Isso, catimba. A frigideira vai longe, a lata de graxa manda para perto do ouvido. E da gente. Mas tem que, o sarará desenvolvia um repinicado gingado, atiçado. Viu uma faca correr no prato, no samba? Pois é. Bonito. Assim o sarará batia a lata de graxa”





domingo, 24 de maio de 2009

Robert Mapplethorpe

Até 26 de junho a Galeria Fortes Villaça, em São Paulo,está exibindo algumas fotos de Robert Mapplethorpe. Em sua maioria são nus e fotos de flores. Mapplethorpe é delicadeza pura. Mesmo quando fotgrafa o submundo de Nova York. É dele a capa do maravilhoso "Horses" de Patti Smith. Aliás, os dois eram muito amigos e moraram juntos por um tempo no lendário Chelsea Hotel. Mapplethorpe morreu por causa da Aids na década de 90. No site "O Século Prodigioso", linkado aí ao lado dá pra conferir várias fotos do cara. Abaixo, posto três delas: Patti Smith, Willian Burroughs e uma flor.





sexta-feira, 15 de maio de 2009

Bill Graham apresenta: minha vida dentro e fora do rock´n roll



São 575 páginas e poucas fotos o que, infelizmente, já vai afastar alguns possíveis leitores. Mas, se você não tem preguiça e gosta de rock´n roll, tem que encarar o livro “Bill Graham apresenta: minha vida dentro e fora do rock”, lançado pela Editora Barracuda.
Alguns críticos disseram que é até melhor que o clássico “Mate-me, pro favor”, a história definitiva do punk rock. Deixando as comparações de lado, o fato é que “Bill Graham...” tem a mesma estrutura que “Mate-me...”, ou seja, é composto inteiramente por depoimentos de entrevistados que vão desde astros como Keith Richards, Peter Gabriel e Eric Clapton, até familiares do personagem.
E quem, afinal de contas, é o personagem? Pois bem, Bill Graham foi um dos caras que transformou a promoção de shows de rock em um dos negócios mais rentáveis do mundo. E sua história é fascinante.
Judeu, teve que fugir da Europa assolada pelo nazismo. Viu sua família ser esfacelada e, aos onze anos de idade, chegou aos Estados Unidos, sem família e sem falar a língua, para tentar iniciar a vida a partir do zero. O início do livro é pesado, pois trata da fuga do nazismo e do incrível drama familiar ao qual Graham sobreviveu.
Depois, a infância no Bronx, as viagens e os empregos em hotéis e restaurantes dos Estados Unidos ocupam algumas páginas mais leves, às vezes até engraçadas. Mas é quando o rock entra na vida de Bill Graham que o livro cresce.
Graham fundou dois palcos fundamentais para o boom do rock´n roll na década de 60: o Fillmore West, em San Francisco, e o Fillmore East, em Nova York. Ali passaram e consolidaram suas carreiras artistas como The Doors, Jimi Hendrix, Eric Clapton e o Cream, The Who, The Byrds, Grateful Dead, Tem Years After, Jefferso Airplane, Janis Joplin e tantos outros.
As histórias dos bastidores dos Fillmore são deliciosas. Relatos de shows inesquecíveis e de situações absurdas envolvendo grandes ídolos da música pop. Através delas, é possível perceber como as bandas deixaram de ser garotos unidos para fazer um som por prazer ou para impressionar as garotas e se tornaram superstars cheios de manias e exigências absurdas.
Graham também dirigiu a casa de shows Winterland que recebeu shows históricos como o último show da conturbada turnê dos Sex Pistols nos Estados Unidos.
Como produtor independente de shows, Bill Graham produziu turnês de gente como os Rolling Stones, Bob Dylan, Led Zeppelin, Crosby, Stills, Nash & Young e George Harrison.
O livro vale a pena por ser parte importante da história do rock´n roll e também para que o público possa conhecer o personagem Bill Graham. Ao mesmo tempo, profissionalíssimo e passional, careta e ousado nas suas concepções artísticas, apaixonado pela música e dotado de uma visão pragmática de negociante. Uma contradição ambulante, enfim. Um personagem tão apaixonante e tão contraditório quanto o rock´n roll que ele ajudou a transformar, de uma expressão da rebeldia juvenil numa mina de riquezas e vaidades.
Histórias escabrosas do Led Zeppelin, frescuras absurdas de Crosby, Stills, Nash e Young, papos de fim de noite com Jim Morrison e Jimi Hendrix. E as maravilhosas descrições de shows como de Otis Redding e Roland Kirk, bastidores de Woodstock e Altamont, porralouquices dos Merry Pranksters de Ken Kesey...não sei o que é melhor. Tem que ler, porra.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Alzira E nós



Nesta segunda feira a cantora Alzira Espíndola, agora Alzira E, esteve em Botuca participando de um evento chamado “Criando a Canção”. A tarde fiz uma longa entrevista com ela para meu programa de rádio. A noite rolou a apresentação que foi muito legal, com direito a “Meu Primeiro Amor”, “Milágrimas”, “Ouvindo Lou Reed” e “Sei dos Caminhos” além de uma versão bluesy de “Meu Mundo Caiu”. Depois do show ela e alguns amigos queridos esticaram aqui pra casa pra tomar umas cachacinhas e jogar conversa fora. Na pauta, filhos, Amy Winehouse, pingas, Bjork, Itamar Assumpção, Ney Matogrosso, Radiohead e Caetano Veloso. Aline registrou a noite legal.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

domingo, 12 de abril de 2009

In Utero

A maçã do amor
Guarda no seu útero
As sementes do homem
E o doce da vida
Que faz doer nossos dentes
E brotarem vermes da nossa carne.

No útero da maçã do amor
Descansa o mapa da queda.


Para Lourenço Mutarelli, Roberto Piva e Zé do Caixão

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Fim da quaresma



Carnaval, desengano. Fiquei com a dor em casa, esperando. Cidade fantasma. Babel e Jericó. É necessário cultivar algum jardim, ainda que localizado à sombra das muralhas de Jericó. Na sombra, a grama não cresce as flores não crescem. As plantas morrem. E à sombra da muralha a umidade é mais densa, mais intensa.
A eletricidade começa onde parou o alfabeto. As pequenas plantas brotam dos vãos do asfalto, da sarjeta, da calçada. Faz frio. Faz calor. Lembro-me de uma manhã ensolarada em que fui ao Museu de História Natural. Caminhamos pelo Central Park e agora fico com saudades do cenário nova-iorquino.
Dez filmes com NY: “Midnight Cowboy”; “After Hours”. Ah… tem vários do Woody Allen e tem “Taxi Driver”. Tem “Kids”. A Real Cool Time Tonight é uma coisa impossível. Babel e Jericó. Arquitetura que não há.
Caminhamos numa noite gostosa de outono pela Broadway e tudo era tão mágico. Como deve ser no cinema. Mágico em Nova Iorque. E o senhor desceu a ver a cidade e a torre. Uma outra ruiu pelo som das trombetas e o clamor das línguas humanas que disparam fogo e força quando querem.
Depois me vejo em São Paulo no meu quarto solitário e aconchegante. Eu viveria ali para sempre. Fazia frio pra caralho e era ótimo. Na TV, pela janela do décimo quarto andar, uma SP de verdade. Prédios e nevoeiro. No crepúsculo, buzinas e helicópteros.
Alguma coisa em mim se perdeu. Algo poderia ter sido e se quebrou. Mesmo com tantas coisas boas, não sou e não fui capaz de recuperar o tempo perdido. Algo está preso no meu peito. E chora e dói. Nem o sonho de nova vida que brinca na minha frente aplaca isso.
Uma palavra nova é solavanco. Vamos exorcizar o samba e o rock. O colapso de Babel e a queda de Jericó, destruída a clamor de gente e corno de carneiro. Que agravo aos arquitetos.
Viva o mal-estar eterno, no sentido que eu espero. Aceleração tecnológica.
Proteja-me do colapso de Babel
E do clamor humano e do corno de carneiro
Que fez ruir as muralhas de Jericó
Quando o concreto desabar

08 de abril ao som de Neil Young & Crazy Horse

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Ao Inferno, Com Amor

Uma letrinha de música tosca que encontrei no meio de velharias no computador. Talvez dê um blues fuleiro.

Apaga, sufoca, dizima minha esperança
Esta chuva de inverno, pesada.
E todas as canções que escrevi
Sei que não vão servir para nada
Pois teus olhos cor de chuva
Não serão minha morada
Vou me perder no centro
Do absoluto fundo de nada
Onde vou esquecer teu nome
E teu frescor de madrugada

Ao inferno, com amor!
Meus olhos procuram por ti
É inverno, por favor,
E a chuva continua a cair.

domingo, 22 de março de 2009

Os Apavoramentos de Roberto Piva – do livro “Coxas”.

APAVORAMENTO N⁰ 1
dezoito garotos & dezoito garotas foram emparedados vivos
em caixas construídas com chicletes que só a Adams fabrica &
tostados dentro de um porão de arsênico & cascavéis

APAVORAMENTO N⁰2
quinze adolescentes de todos os sexos foram chicoteados na
bunda por batalhões da TFP que os insultavam enquanto
trezentos rapazes & moças de seita imperialista Igreja Católica
cortavam rodelas de cebolas & colavam em seus olhos

terça-feira, 3 de março de 2009

Saudades eletrônicas



Dia desses, durante o carnaval fiquei matando o tempo da minha maneira preferida, olhando uma loja de CDs e DVDs. E foi aí que achei uma DVD do famoso “Concert In Central Park” de Simon & Garfunkel. As lembranças da infância vieram rápidas.
Apesar de sempre ter tido muito contato com música em casa, alguma coisa chamou minha atenção para uma coletânea desta dupla nova-iorquina que pertencia a um tio meu que na época, idos de 1982, morava em Piracicaba. Acho que nunca ouvi aquele disco. Só gostava da capa e da contra-capa, com o Paul Simon de bigode e cabeludão, sentado com o seu parceiro Art Garfunkel à frente de um alambrado, com o Rio Hudson ao fundo. Acho que, na verdade, era um pouco de admiração também. Queria ouvir o mesmo som que o meu tio ouvia, assim como queria ser engraçado e inteligente como ele.
Quando o showzão do Central Park foi exibido pela TV Bandeirantes, esse mesmo tio me chamou a atenção. Se não me engano era uma noite de domingo e fiquei lá, do alto dos meus nove anos, ouvindo clássicos do “soft rock” sessentista como “Mrs. Robinson”, “The Boxer” e “Homeward Bound”. Depois disso, pedi dinheiro pra minha mãe e comprei um disco igual ao que meu tio tinha. Tenho o vinil guardado até hoje. E ali, além das três musicas citadas, estão “América”, “Scarborough Fair” e, o maior sucesso da dupla, “The Sounds Of Silence”.
Por essas lembranças todas não resisti. Arrematei o DVD do “Concert...” e agora é como se tivesse um fragmentozinho da minha memória, exatamente aquele que me fez gostar de comprar discos e ouvir música, preservado na prateleira, podendo ser acessado a apenas um toque na tecla play. A sensação é boa.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Matei a Ivete e fui ao cinema

Agora, na tranquilidade calorenta da minha casa, ouvindo o Heavy Trash, novo projeto do Jon Spencer, posso comemorar ter passado todo o carnaval sem praticamente ter visto as feições equinas da Ivete Sangalo na TV. Não é sacanagem... sempre achei que ela parece uma égua dessas de exposição... sem sacanagem... pra mim a associação é imediata. Bom... opiniões fisionômicas à parte, não ver Ivete Sangalo também indica não ouvir sua música detestável. Escapei de ficar entediado vendo escolas de samba e trios elétricos desfilando.
Em vez disso, o Carnaval foi aproveitado com dois filmaços: “O Lutador”, de Darren Aronofsky, com o Mickey Rourke e a Marisa Tomei e “Rio Congelado”, de Courtney Hunt, com Melissa Leo.
“O Lutador” foi especial por vários motivos. O mais óbvio é a presença de Mickey Rourke, o cara que fez “Rumble Fish” e “Coração Satânico” e foi aos infernos, assim como seu personagem no filme de Alan Parker. Ele está estupendo no papel de Randy, “the ram”, um decadente lutador de tele catch que briga contra o tempo, a solidão e a falta de grana. Com pouco tempo de projeção percebemos que Randy é um cara legal e que sua batalha está perdida. Talvez daí a beleza triste e digna de sua luta.



Algumas cenas são antológicas, como sua caminhada pelos fundos do supermercado em que faz bicos e sua entrada na área de frios, como se fosse o trajeto dos camarins até o ringue, onde o público o espera delirante e reverente e não como a realidade mostra, impaciente pedindo a maionese. A cena em que Rourke e Marisa Tomei relembram o apogeu do metal farofa nos anos 80 e detonam Kurt Cobain também é ótima.
Marisa Tomei, mais bonita do que nunca, aos 44 anos, faz a stripper em fim de carreira por quem Ryan se apaixona. Quando os dois estão juntos em cena há uma beleza e um desconforto de saber que as duas almas enjeitadas poderiam se ajudar, mas os limites já foram ultrapassados e o encontro definitivo não vai ocorrer. Embora não seja o motivo central do filme, é uma das mais belas histórias de amor que vi no cinema nos últimos tempos.
Mas o filme é mesmo de Rourke. Há um certo momento, no último encontro com a filha em que seu olhar expressa a percepção de que não tem mais retorno, resta seguir em frente até o último round. É de arrepiar. O final é maravilhoso. Filmaço.
O “Rio Congelado” é mais duro, mais foda e igualmente imperdível. É basicamente uma história sobre maternidade e a força das mulheres. A personagem de Melissa Leo, abandonada pelo marido viciado em jogos de azar, lutando para criar seus filhos de 5 e 15 anos é fascinante. Tira forças não se sabe de onde para conseguir trazer um pouco de conforto aos garotos, mesmo sacrificando seus valores e sua liberdade.



Sua parceira nos caminhos tortos é uma índia, também uma mãe que sonha em ter seu filho de volta. No fim da tensa jornada das duas, Melissa Leo será também a mãe da índia. Um filme que só poderia ser dirigido por uma mulher. O surpreendente é que essa mulher, Courtney Hunt, é uma estreante. Promissora. Fez um filme fudido, imperdível e humano demais.
Mais que perfeitos antídotos contra samba ruim, axé music e celebridades são filmes que vão ficar.
Aí vão fotinhos do Rourke voando nos ringues e de Melissa Leo.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Trechos de Borges – dos contos de “O Aleph”

“... a lua tinha a mesma cor da areia infinita”.

“No sétimo século de Hégira, no arrabalde de Bulaq, transcrevi com pausada caligrafia, num idioma que esqueci, num alfabeto que ignoro, as sete viagens de Simbad e a história da Cidade de Bronze.”

“O sol da manhã rebrilhou na espada de bronze. Já não restava qualquer vestígio de sangue”.

“Olho a minha face no espelho para saber quem sou, para saber como me portarei dentro de algumas horas, quando me defrontar com o fim. Minha carne pode ter medo; eu não tenho!”

“Não há homem que não aspire à plenitude, quer dizer, à soma de experiências de que um homem é capaz; não há homem que não tema ser lesado em alguma parte deste patrimônio infinito”.

“O importante é que reine a violência. Não a servil timidez cristã.”

“O medo do grosseiramente infinito, do mero espaço, da mera matéria tocou Averróis por um instante. Olhou o simétrico jardim; sentiu-se envelhecido, inútil, irreal”.

“Nos velórios, o progresso da decomposição faz com que o morto recupere suas faces anteriores. Em algum momento da confusa noite do dia seis, Teodelina Villar foi magicamente a que fora há vinte anos; seus traços recobraram a autoridade imposta pelo orgulho, pelo dinheiro, pela juventude, pela consciência de coroar uma hierarquia, pela falta de imaginação, pelas limitações, pela estupidez. Pensei mais ou menos assim: nenhuma versão dessa face que tanto me inquietou será tão memorável como esta; convém que seja a última, já que pode ser a primeira. Deixei-a rígida entre as flores, seu desdém aperfeiçoado pela morte. Seriam duas da manhã quando saí. Fora, as previstas fileiras de casas baixas e de casas de um pavimento tomaram o ar abstrato que costumam tomar à noite, quando a sombra e o silêncio as simplificam. Ébrio de uma piedade quase impessoal, caminhei pelas ruas”.

“Não se pode contar como era essa casa, que mais parecia um só quarto, com filas de armários ou balcões, uns sobre os outros. Nessas cavidades havia gente comendo e bebendo, e também no chão, e também num terraço. As pessoas desse terraço tocavam tambor e alaúde, menos umas quinze ou vinte (com máscaras vermelhas) que rezavam, cantavam e dialogavam. Estavam presas, e ninguém via o cárcere; cavalgavam, mas não se percebia o cavalo; combatiam, mas as espadas eram de cana; morriam e logo estavam de pé”.

“Um homem se confunde, gradualmente, com a forma de seu destino; um homem é, afinal, suas circunstâncias.”

“A confusão e a maravilha são atitudes próprias de Deus e não dos homens”.

“Compreendi que o trabalho do poeta não estava na poesia; estava na invenção de razões para que a poesia fosse admirável”.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Vi o Ensaio


Finalmente assisti o “Ensaio sobre a Cegueira” do Fernando Meirelles. Gostei muito do filme. Não li o livro do Saramago, mas imagino que a pedrada que é o filme seja fiel às intenções do texto do mestre português. Nada de comparar o filme ao livro, cinema é uma linguagem, literatura é outra. O importante é que o filme é bom.
O elenco é ótimo e Julianne Moore, sempre citada como uma das grandes atrizes norte-americanas da atualidade, tem uma atuação maiúscula. Os coadjuvantes, como Danny Glover, Alice Braga, Gael Garcia Bernal também mandam muito bem. Até o xaropinho indie Mark Rufallo está suportável.
Mas, apesar do talento do elenco, o filme é do diretor. Tenso, denso, com uma fotografia sofisticada e inusitada para os padrões hollywoodianos, o filme provoca um incômodo e uma angústia, estranhos ao gosto do público médio. A sequência do estupro coletivo é particularmente aflitiva.
Meirelles também usa a trilha sonora, composta pelo grupo Uakti, de uma maneira inteligente, sem recorrer a soluções fáceis para criar climas.
Sem falar no inusitado de ver a cidade de São Paulo abandonada em estado de caos total, bem... pelo menos um caos diferente (e muito mais intenso) do que estamos acostumados.
Apesar de Fernando Meirelles e da ação se passar em São Paulo não dá pra dizer que é um filme brasileiro. Da mesma forma, “Ensaio...” não pode ser classificado como um drama hollywoodiano comum. Talvez por isso tenha tido uma trajetória de estranho no ninho dividindo crítica e público. O filme ficou de fora das principais premiações do cinema internacional, mas recebeu as lágrimas e os elogios de José Saramago, o que para o diretor deve ter valido uma caralhada de oscars, palmas, leões e outros bichos...

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Borges novamente pela primeira vez



Acabei de ler “O Aleph” de Jorge Luis Borges. A única coisa que tinha lido dele é “A História Universal da Infâmia”, quando eu tinha uns 14 ou 15 anos de idade. Lembro que gostei, achei delirante e tal. Mas reler Borges agora foi como encontrar o autor pela primeira vez.
Dá pra perceber que há todo um universo por trás de sua literatura, composto por um conhecimento histórico e uma cultura geral quase absurdas (sei que Borges era leitor de enciclopédias, estudioso de etimologia e dizia que imaginava o paraíso como uma espécie de biblioteca) e uma capacidade de adaptar personagens de tempos e lugares distantes às mais diversas situações fantásticas. Vários dos contos do Aleph começam definindo a época e o lugar onde a ação inicia, o que causa uma sensação de “era uma vez”, remetendo a histórias contadas pelos mais velhos numa noite de conversa.
Além dos temas fantásticos, Borges gosta de tratar do universo dos pampas, como uma verdadeira mitologia gaúcha, tema que me agrada particularmente. Nesse sentido, o conto “O Morto” me impressionou bastante.
O livro todo é muito interessante. Apesar de ler uma tradução, a abordagem inusitada dos temas e a delicadeza de ourives no trato com as palavras me impressionaram bastante. A cada parágrafo, o autor encontra soluções poéticas de beleza simples, que tornam suas descrições (os textos são sempre bastante descritivos) impressionantes e fazem querer reler parágrafos a todo momento.
Acho que o conto que mais me impressionou foi “A Casa de Asterion”, a sina da besta feroz e inocente contada de uma maneira totalmente inusitada. Parece um poema em prosa. É duro e é fascinante como são as sinas. Confesso que me emocionei lendo, de um modo que há tempos não acontecia. Talvez desde que o meu irmãozinho Pedro me emprestou o “Lavoura Arcaica” do Raduan Nassar. Uma pena o Pedro não estar por perto. Valia a pena uma leitura conjunta de “A Casa de Asterion” e de vários outros contos de “O Aleph”.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sobre domingos e catecismos

Hoje, eu estava sozinho num café, uma menina passou e não me olhou. Imediatamente passei a questionar as virtudes que os cristãos dizem estar ligadas à pobreza. É claro que se eu fosse rico ela me olharia. Mas como ela saberia da minha riqueza apenas me olhando largado numa mesa do café? Não tenho a menor idéia, mas ela saberia. Eu sempre sei que alguém tem grana. Pelas roupas, pelos gestos, o queixo alto. E, lógico, se eu fosse rico não estaria num café tão furreba.
Amanhã é segunda e a merda continua. Parece que meu sono nunca é suficiente e acordo sempre praguejando. Saio pra trabalhar e o frio das manhãs quase melhora meu humor.
Meia hora de ônibus e estou no escritório onde a merda continua. Penso em largar tudo e ser faquir na Praça da Sé, como num filme do Zé do Caixão que vi dia desses. Já até imaginei alguns números originais, afinal, cama de pregos já não impressiona ninguém. Pensei em arrancar meus dentes sem anestesia. Depois de estar totalmente banguela eu morderia uma gilete. As lâminas penetrando nas gengivas vazias de dentes. Um sucesso absoluto.
O pior desses dias é não ter a quem procurar. Estou vulnerável. Chego a ter dó da próxima mulher que me der bola, se houver alguma. Eu me agarrarei a suas pernas e não a deixarei andar sem mim. Me apaixonarei e serei o cara mais pegajoso da face da terra.
Provavelmente eu a seqüestre e leve para uma cabana em um lugar ermo. E ficaremos trepando no tapete da sala de manhã até a noite. E só comeremos chicletes e só beberemos nosso suor e só ouviremos os malditos pássaros e nossos gemidos. Não falaremos.
Isso é o que eu fico imaginando e me tira o sono. Na verdade, falta grana, falta saco, televisão me aborrece e enjoei dos meus discos. Não leio mais jornal, mas também não consigo ficar totalmente indiferente. Tento me convencer de que tudo é normal hoje em dia. As chacinas, as cagadas da polícia, as guerras, os políticos e as celebridades. Nem sempre funciona. Um restinho de raiva insiste em deixar um amargor na boca. E, para piorar, a garota gordinha do prédio da frente não trepa nem se troca mais de janela aberta desde que o outono chegou.
O pior é o que chamo de efeito montanha-russa. As oscilações. Ou seja, os dias em que alguma coisa em mim resolve soterrar esse tédio. Aí sinto desejos incontroláveis de mudar. Ser demoníaco, sensual, preguiçoso, arrogante, irônico e exibicionista. Uma vontade de ser expulso do Jardim do Éden ou de, pelo menos, dar um peido barulhento em frente da minha chefe chique com seus lenços coloridos no pescoço.
É tipo uma vontade de ser jovem e inconsequente para sempre. Um James Dean capaz de dirigir melhor. Afinal, não quero morrer cedo. Prefiro ficar num pedestal, adorado em vida com meus cabelos dourados, olhos azuis, pele clara, boca vermelha. Uma espécie de Helmut Berger fazendo papel de amante da condessa louca e sanguinária de cabelos verdes e corpo perfeito.
Queria andar na chuva, matar dragões de neon e comer com os pés em cima da mesa. Tudo para horrorizar os homens de virtude, as mulheres de berço e as meninas de família. Queria acumular segredos inconfessáveis, daqueles capazes de terminar amizades. Fazer e falar coisas absurdas. Ser poeta sem precisar das palavras. Ser Alexandre o grande. Ser um faraó. Temido, mítico, aclamado. Queria ser o Lou Reed. Um fauno.
Mas a vida é estranha, os muros são altos e eu viajo demais. Daí esse sufoco passa e não faço porra nenhuma. A montanha russa volta para o trecho mais seguro e eu para meu estado normal de inanição. Não sorrio, não agradeço, quero que se fodam.
As manhãs de domingo são mais interessantes. Durmo um pouco mais. O barulho do trânsito é menor. Acordo e vou comer pastel na feira, onde a garotinha japonesa sorri quando eu peço a pimenta. Talvez ela ria da minha cara de sono. Talvez ela ria pra todo mundo.
Quando vou à feira passo em frente à igreja do bairro e tem sempre muita gente saindo da missa. Muitas ovelhinhas agradecendo a Deus ou pedindo coisas. Deve ser enfadonho para Deus, enquanto coça seu saco celeste, ficar ouvindo as ladainhas e os hinos dos carolas “anunciando o amor que vem do céu e na terra se faz alma e cor”. Havia um hino assim quando eu era criança e fiz catecismo.
Depois aprendi um sentido mais interessante que os moleques davam à palavra catecismo. Era como a molecada da rua chamava as revistinhas de sacanagem. Aquelas pequenininhas, tipo fotonovelas. “Agora, Elvira... goza junto comigo”. Lembro de uma dessas em que a mulher se chamava Elvira. Juro por Deus e por todos os catecismos. Era uma loira americana, dessas que os carolas insultariam e apedrejariam. Porra... e chamada Elvira!
Também sempre compro laranjas na feira e mais algumas frutas. Já as tardes de domingo são horríveis. Ouvindo futebol no rádio, assistindo algum filme alugado e chupando laranjas. A sensação de tempo perdido é indescritível e insuportável.
E sigo vegetando até a madrugada. Até a hora dos filmes ruins e dos programas que ninguém vê. De vez em quando, para pegar no sono, fico lendo um velho dicionário de bolso que era da minha mãe. Às vezes até me divirto assim.
Aprendo palavras inúteis como “arconte”, o magistrado na Grécia antiga. Descubro que “beiju” é um bolinho de mandioca; que “mangabeira” é uma árvore frutífera. Também li que “sicário” é um assassino assalariado. Taí um emprego tão bom quanto o de faquir na Praça da Sé.
Agora abro outra página do dicionário e leio os significados da palavra “negror”. Esta lá: 1. negrume; 2. escuridão, negrura, negridão; 3. nevoeiro espesso; 4. tristeza, melancolia.
Apago a luz e, mais uma vez, não durmo com os anjos.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Arqueologia

In the heart of the saturday night (ouvindo Tom Waits) – outubro de 1996

No coração das noites de sábado
As meninas dançam,
O fogo queima nas bocas,
E o tempo voa para os corpos.

Há sempre a urgência
Do órgão pulsante
Pelo próximo toque.
Quem sabe a redenção na próxima esquina,
No próximo bar.
Leves, os ombros nus e a noite imensa
Esmagam meu coração.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Aventuras radiofônicas


Eu no estúdio e a Luana na técnica tirando clássicos do fundo do baú. Nesta semana farei um especial sobre o Lupicínio Rodrigues, o homem que conhece todas as formas da dor-de-cotovelo.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Posso?

Não me interessa apenas escrever poesia.
Quero é me colocar em estado de poesia.
Ser uma antena, hipersensível.
Feroz, como uma pantera.
Sutil, como um vagalume.
Intenso, como um vendaval.

(Ademir Assunção)

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Só li trechos de coisas do Mario Prata e nunca achei simples.
Só li trechos de coisas do Bortolotto e nunca achei fácil.
Li bastante Bukowski. Mas nunca disse “assim até eu”.
Nunca achei que ser hermético bastasse para escrever como Clarice.
Rubem Fonseca é apenas um crime e um culpado? Nunca achei que fosse.
Também nunca achei que Nelson Rodrigues fosse apenas um punhado de invenções doentias.
Nunca achei que Kerouac fosse mera datilografia.
Não li Fante. Mas pretendo.
Não li Mirisola. E não pretendo.
Não sou da turminha.
Você é profissional disso. É bom nisso.
Eu sou um amador e estou na minha.
Ouso escrever, ainda que mal.
Porque quero.
Porque preciso.
Porque é assim que eu sei.
Também acho que tem que ter culhão.
Mas acho triste agressividade mal direcionada.
E acho que nós temos nos mandando à merda em demasia nesses tempos.
Tem gente por aí merecendo muito mais.
Por fim, acho o “diga-me com quem andas...” em sua variação “diga-me o que você lê..” com o mesmo saborzinho do “sabe com quem está falando...”. Autoritário e besta.
Ah... li Maiakówski. Mas, sinceramente, não te interessa.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Homenagens - postando novamente

A Roberto Piva

Nas asas da América Latina
Onde o sangue invade o mel
O óleo diesel vaza da pia batismal
Sem sentido,
No ventre de uma igreja viva
Que arfa e mostra os dentes

Eu vi a cobra coral devorar o natimorto
Ouvi os sons de escapamentos
E o trole da modernidade rasgando as estradas de leite contaminado

Respirei o pó branco da invenção e da leveza
O gineceu invadido, o coma de minhas artérias
E assim deixei o dia chegar frio e abri as janelas sobre o mar escuro



A Torquato Neto


Aqui em Paupéria
É mais fácil ser torto que ser anjo
Abrir o gás dessa miséria
Apagar
Estreitar a relação entra a febre e o violão
Um beijo moreno-exagerado no escuro

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O som da tatuagem

O som da minha tatuagem é Jane´s Addiction. Mais especificamente “Jane Says”, “Slow Diver” e, principalmente, “Ocean Size”. Acho que naquele momento eu estava mesmo me sentindo do tamanho do oceano. Minha tatuagem é uma tribal sem um significado maior que o fato de marcar um momento bom depois de uma deprê longa e fodona. Raspei a cabeça, fiz a tatuagem e fui pra Ilha Grande acampar. Não necessariamente nessa ordem. A fumaça não me deixa enxergar com clareza a ordem dos fatos.
Tem vários sons que marcam períodos da vida. Acho que com todo mundo é assim. Pelo menos com quem gosta de música. Na época da minha primeira faculdade de jornalismo ouvia direto o “Caution Horses” dos Cowboy Junkies e a parte acústica do “Before the Flood” do Dylan. Adorava curtir uma dor de cotovelo ouvindo a versão de “Just Like a Woman” daquele disco. Decorei a letra e até o solo de gaita. Era apaixonado por uma menininha linda e bobinha que acho que até hoje não sabe quem é o Bob Dylan. Depois fazia minha sessão de “air acoustic guitar” com “It´s Alright Ma” pra exorcizar o bode. Moí a fitinha do “Before...” e só dia desses, já em 2009, baixei o som da internet. Ainda é bom demais.
Teve a fase Sérgio Sampaio, honorável padrinho deste blog. É... não tinha idéia melhor pra batizar o brinquedo e aí veio a canção “Pobre Meu Pai” na cabeça. A fase Sérgio Sampaio também foi meio na época do início da faculdade. Nós, os pequenos e bobinhos aprendizes de malucos gastamos nossas fitinhas com o “Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua”. O vinil que paria as fitinhas era das turcas Samira e Sumaia. Músicas lindas como “Dona Maria de Lourdes”, “Eu Sou Aquele que Disse”... ah...todas são do caralho até hoje. Sampaio é foda.
Lembro que uma vez apareceu lá em casa um colega de faculdade chamado Nélio que era bem mais velho, ator de teatro, malucão. Ele tinha morado no Espírito Santo e conhecia até o irmão do Sampaio. Na época, eu tinha 18 anos e o cara 35, minha idade hoje. Botei a fitinha pra rolar e o cara pediu pra ouvir “Viajei de Trem” em silêncio, de olhos fechados e ficou lá meio chorando e tal. Fazia anos que ele não ouvia aquilo, o disco estava fora de catálogo há muito tempo. Ele deve ter me contado sua história com a canção, mas eu não me lembro mais.
Pô... sem entrar em detalhes...teve muita coisa que marcou. E o pior é que ando com vontade de fazer outra tatuagem. Falta escolher o desenho. E o som, é claro.

Escrito ao som de “Não Adianta Nada”, do Rei Roberto Carlos – safra 1973

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A bela e a fera



Como escrevi aqui, num “mea culpa” alguns textos atrás, ouvi pouco rock em 2008. Ou melhor, ouvi pouco rock novo no ano que passou. Nos últimos dias tenho tentado tirar o atraso garimpando na internet alguns dos discos citados nas famosas listas de melhores do ano. E achei um trabalho brilhante como não ouvia há tempos.
Trata-se de “Sunday at Devil Dirt”, segunda colaboração entre Isobel Campbell, ex-integrante do grupo escocês Belle & Sebastian, e Mark Lanegan, ex-Screaming Trees e Queens Of The Stone Age.
A parceria da bela Isobel com o esquisitão Lanegan começou em 2006 com o álbum "Ballad of the Broken Seas". O disco ganhou até prêmios, mas acabou dividindo a crítica. O destaque foi uma versão de "Ramblin' Man", velho sucesso do mito country Hank Willians.
Confesso que não ouvi “Ballad of the Broken Seas”, mas a crítica especializada tem dito que o novo CD é mais sofisticado, melhor arranjado e com uma atmosfera mais folk. O que eu sei é que “Sunday at Devil Dirt” é um trabalho cheio de climas entre o sombrio e o delicado que surgem do encontro de duas figuras com trajetórias musicais tão díspares.
As canções são, antes de mais nada, simples. Os arranjos valorizam as belas melodias e o contraste entre a voz delicada de Isobel e o tom gravíssimo de Lanegan que, aliás, é predominante. Os vocais etéreos de Isobel, como que enfeitam as canções, ficando num elegante segundo plano.
Talvez o disco tenha me chamado tanta a atenção pela sequência de faixas matadora que abre o disco. “Seafaring Song” é uma canção que celebra a volta aos braços da pessoa amada com ecos de Leonard Cohen e Tom Waits. “The Raven”, também tem o mesmo clima, mas com o tom soturno elevado ao cubo, por cortesia dos vocais de Lanegan.
A terceira, com acentos de blues rural é “Salvation”, talvez o melhor refrão do CD. O primeiro dueto vocal pra valer está em “Who Built the Road”, com arranjos de cordas e um sino que constroem a atmosfera agridoce com direito até a um “la-la-la” no refrão.
Outro momento especial do disco é “Trouble”, conduzida por violões folk, a canção é provavelmente a melhor síntese para “Sunday at Devil Dirt”. Lanegan suaviza sua voz cavernosa para duetar com Isobel numa canção de amor direta e singela.
O CD termina com o cinismo de “Sally Don´t You Cry”, com sua letra que convida a personagem a se conformar com os problemas causados pelo parceiro. “Oh Sally don't you cry/ A man's a man/ Does the best he can/ I see you are mad/ But he's the best you've had/ Sally it ain't so bad”.
Este CD não está nas listas de melhores discos de rock de 2008 à toa. Talvez não seja a oitava maravilha da música pop, mas há beleza, inteligência, delicadeza e uma coesão nas composições e nos arranjos que dá força ao trabalho. Não se parece em nada com Belle & Sebastian, nem tampouco com Primal Scream e Queens of the Stone Age. São apenas canções melancólicas e despojadas, feitas com grande cuidado. Vale ouvir.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O Sentido da Vida – por Lemmy Kilmister




Lemmy Kilmister do Motorhead é uma figuraça. Além de comandar com seu baixo atômico uma das bandas mais fudidas de todos os tempos, ele foi eleito pela edição de junho de 2006 da revista feminina Maxim uma das "10 Lendas Vivas do Sexo". Mesmo com a aquela cara de cão sarnento. Tirei do blog “Black Sabbado” uma entrevista com a fera, onde ele trata de assuntos edificantes, nesse momento de crise mundial. Senhoras e senhores, aproveitem das elocubrações existenciais desse espírito esclarecido e iluminado.

Pergunta: Tem hobbies?
Lemmy: "Pegar mulheres, suponho. Na verdade, não, isso é uma carreira. A música é o hobby".

Pergunta: Lemmy, se você tivesse de parar de trepar ou fazer música, o que escolheria?
Lemmy: "Bem, a primeira atividade é razão pela qual eu entrei na segunda! Então eu afirmo que não tenho que escolher!"

Pergunta: Você é religioso de alguma forma?
Lemmy: "Sou agnóstico, na verdade. Vou esperar e ver... e eu posso esperar.
Mas não tenho medo de morrer. Qual é o motivo para ter medo do inevitável?
Eu só espero que não seja num hospital cercado de imbecis e com tubos enfiados no nariz,sabe? Minha ética é, 'coma, beba e seja feliz, pois amanhã morreremos'.
Você pode ser o quanto cuidadoso quiser, mas você vai morrer de qualquer jeito,
então porque não se divertir?"

Pergunta: O que em sua opinião é a melhor cura para uma ressaca?
Lemmy: "'Hair of the Dog' [N.T.: Em português, 'pêlo do cachorro', uma redução da expressão “pêlo do cachorro que te mordeu", que significa beber um pouco de álcool para melhorar a ressaca]"

Pergunta: Qual a melhor mistura de bebidas que recomendaria, e qual a melhor maneira de bebê-la?
Lemmy: "Whisky Jack Daniel’s e Coca-Cola, misturados na sua boca".

Pergunta: De onde vêm os bebês?
Lemmy: "Os bebês surgem quando um homem vai ao topo de um prédio alto e pula, e uma mulher o pega antes que caia no chão. Em seus dentes".

Pergunta: Você sempre quis ser um músico? Se não, como que idade você decidiu que queria ser um músico?
Lemmy: "Eu me interessei pela arte musical pelos 13 anos – eu vi todas aquelas garotas – eu tinha um cérebro de 13 anos, agora eu tenho um cérebro de 15 anos!"

Pergunta: Sobre a descoberta dos benefícios do Viagra:
Lemmy: "Eu ainda uso de vez em quando. Se o 'Bráulio' não está apontando para a beleza então ele precisa de um empurrãozinho. Qual é o problema com isso?"

Pergunta: Sobre sua visão sobre o amor:
Lemmy: "Não dá pra alguns caras serem fiéis. Se as pessoas querem se casar e ficar na putaria, isso é desonesto. Se você vai se casar, se case e pronto. Eu nunca conheci uma garota que conseguisse me fazer parar de olhar para as outras, então não me casei".


Pergunta: Você perdeu sua virgindade aos 18 anos. Como aconteceu?
Lemmy: Na praia, na chuva. Foi horroroso e tinha areia entrando em todos os lugares. Sabe?

Pergunta: E desde então você transou com duas mil mulheres...
Lemmy: Eu nunca falei "duas mil mulheres". Eu falei que havia transado com mil. Agora devem ser já umas mil e duzentas ou algo parecido. Faz muito tempo que estou na estrada e nunca fui casado, então não tive folga.



Por fim, Lemmy e o Motorhead em ação. E ainda tem gente que acha que NX Zero é rock...


terça-feira, 13 de janeiro de 2009

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Ouvindo a chuva

Chuva. Desde criança eu gosto de chuva. Agora, enquanto ouço a tempestade de verão lá fora, acabei me lembrando dos bolinhos de chuva que minha avó fazia. Não eram como esses bolinhos de chuva tradicionais, que são meio redondinhos e levam açúcar. Eram uns bolinhos de fubá, compridos e salgados que, ao serem fritos, ficavam crocantes por fora e com aquela massa macia na parte interna. Minha avó dizia que aprendeu os bolinhos com a mãe dela, minha bisavó portuguesa que eu não conheci. Por isso ela não sabia nem ensinar a receita. Ia fazendo as medidas ali, no olho. O resultado foi que minha mãe e minha tia não sabem fazer o bolinho. Só um primo que, assim como eu, adorava os bolinhos de fubá, aprendeu. Ele fazia os bolinhos junto com minha avó quando era criança. Provavelmente não se lembra mais da receita.
Outra coisa que minha avó fazia era uma massa de pizza esquisita e que eu achava a coisa mais saborosa do mundo. Meu pai apelidou aquilo de “pizza sem vergonha” e a família toda, até a velha, passou a chamar a tosca iguaria por esse nome. Não tenho a menor idéia do que vai na massa. Sei que não parece em nada com nenhuma outra massa de pizza que eu tenha comido, nem mesmo com massa de pão ou qualquer outro tipo de massa. Eu adorava aquilo e, quantas vezes, sem aviso prévio minha avó me ligava no final da tarde pra ir jantar na casa dela a tal pizza sem vergonha.
O recheio era o mais simples possível. Mussarela, tomate, cebola e orégano. Quando o prato era feito exclusivamente pra mim, minha avó dobrava a quantidade de cebolas. Assim como o bolinho, a receita da pizza sem vergonha não foi aprendida por ninguém.
Minha avó hoje vive da sua cadeira de rodas para a cama. Está frágil e perdeu de vez a lucidez. Sinto falta da sua alegria desbocada, de sua implicância bem humorada. Nunca mais vou provar nem o bolinho nem a tal pizza. Mas consigo lembrar dos sabores com perfeição. O bolinho de fubá e a pizza sem vergonha se foram. De certa maneira, minha avó também se foi. Ficou a chuva.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Minha primeira vez com Lou Reed




Em 1996 eu morava numa república de estudantes em São Paulo. Estava entediado, odiava, ou melhor, desprezava o que eu estava estudando, mas adorava morar em São Paulo por causa dos cinemas, teatros e shows que frequentava.
Nesse ano assisti o que costumo dizer que foi o melhor show que vi na vida. Foi a primeira vinda de Lou Reed ao Brasil na turnê do álbum “Set the Twilight Reeling” para dois shows no Palace.
Não tinha carro e não sabia nem onde era o Palace. Fui com uma amiga comprar o ingresso para a segunda noite. A primeira era uma disposição com mesas e camarotes, ou seja, custava o dobro e nem dava pra ter o prazer de pular com a galera no gargarejo. Coisa pra tiozinho.
No dia do show chovia muito. E lá fui eu para a 23 de maio tomar o ônibus que minha amiga tinha me ensinado. Todas as janelas do ônibus estavam embaçadas e era impossível enxergar o lugar onde eu deveria saltar e que eu havia decorado no dia da compra dos ingressos. Pedi para o motorista avisar quando o ponto chegasse. Deu tudo certo e em poucos minutos eu já estava na pista, em frente ao palco, com só duas pessoas na minha frente.
E foi inesquecível. Abriu com “Sweet Jane”, seguida de “Dirty Boulevard” e “Waiting for the Man”. Toda aquela crueza dos discos do Velvet e solo do Lou Reed estavam no palco. Com um som poderoso e brilhante feito de paredes de distorção. O show seguiu assim, com o repertório impecável, a platéia em delírio e a banda afiadíssima com o fantástico Fernando Saunders no baixo e Mike Rathke na guitarra. Não consigo mais me lembrar do nome do baterista. Tocaram quatro músicas do “Set the Twilight”, inclusive “Hooky Wooky”, que na época passava direto na MTV.
No bis teve “Vicious” e a maravilhosa “Satelite of Love”, cantada inteirinha pela platéia, o que, claramente pana nós ali da fila do gargarejo, surpreendeu a banda e Reed. Não deu outra. Voltaram para um segundo bis com “Rock´n Roll” e “Walk on the Wild Side”. Agradeceram e tentaram sair do palco, mas o público fez tanto barulho que Reed pediu aos músicos pra tocarem mais uma. Cheguei a ver o baterista fazendo sinal pra ele que estava cansado.
E aí veio “Pale Blue Eyes” (gravada até pela Marisa Monte) e todo mundo cantou junto de novo. O velho rock star maldito sorria, visivelmente emocionado. Pararam novamente, deixaram os instrumentos e agradeceram e... o público gritou e pulou ainda mais! Eu não acreditava. O roqueiro mais cínico e perigoso da história sorria abertamente, jogava beijinhos e trocava palavras de surpresa com os músicos.
Não teve jeito. Extenuados, tomaram seus instrumentos de novo e fizeram uma barulheira dos infernos, no melhor estilo das muralhas de microfonia do Velvet Underground. Não foi uma canção, foi um ritual, um “happening” pra lavar a alma dos fãs.
Dias depois, um amigo que não foi ao show disse que leu em algum jornal que Reed, que estava afastado do álcool e das drogas há algum tempo fez questão de tomar uma dose de uísque com os músicos da sua banda ainda no camarim para celebrar o segundo show em São Paulo, considerado especial por ele. Nunca vi nada parecido num show de música. Além das lembranças que divido com vocês, guardo o ingresso do show e a matéria do jornal do dia.
Vi Lou Reed na sua segunda vinda a São Paulo, na turnê do disco “Ecstasy”, no gigantesco Credicard Hall. Foi legal também, mas não repetiu a magia daquela noite chuvosa. O compositor de “Perfect Day” fez a noite perfeita. Rock´n roll animal, visceral e verdadeiro.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Nick Cave fez o melhor rock de 2008




Tá certo... 2008 foi talvez um dos anos em que menos ouvi rock. Colaborei na Comissão Organizadora do Festival Botucanto, passei a produzir e apresentar o Arquivo Musical Brasileiro pela Rádio Emissora de Botucatu (todas as sextas, a partir das 20h), ou seja, projetos muito ligados à música popular brasileira.
Nessa virada de ano, ao procurar as listas de melhores do ano, me dei conta de que só tinha um dos CDs que andaram frequentando a maioria das listas dos críticos de rock. Na verdade, a maioria dos discos citados é de bandas novas, pouco conhecidas e independentes. Hoje, porém, com as facilidades da internet, não dá pra usar essas coisas como desculpa. O fato é que ouvi pouco rock no ano que passou e quando ouvi procurei os clássicos: Dylan, Neil Young, alguma coisa de blues...
Não é à toa que o tal do CD que eu ouvi e que consta das coletâneas é de um veteraníssimo surgido nos porões enfumaçados dos anos 80, o grande Nick Cave. “Dig, Lazarus, Dig!” foi o melhor disco de rock que ouvi, dentre os lançados em 2008. Meu queixo ainda cai cada vez que ouço o disco, e olha que sou fã de longa data do cara. Acho sinceramente que “Dig” é um dos seus melhores, o que não é pouca coisa numa discografia sólida como a do “senhor caverna”.
O disco tem a atitude e o tom lúgubre que marcam toda a carreira de Cave, mas há uma algo mais. Sua banda, os Bad Seeds, nunca soou tão quente, tão rock´n roll. O clima pesado, a distorção e o desconforto fazem parte do DNA de Cave. Mas alguns elementos enriquecem as músicas tornando-as às vezes mais interessantes ritmicamente, como o riff e o coro da faixa-título, outras mais etéreas como a sonoridade de teclados e guitarra de “Jesus of the Moon”, que me fez lembrar coisas do “Time Out of Mind” do Dylan, aquele som de cabaré decadente à meia luz. E o que dizer do casamento estranho de percussão, teclado e guitarra em “Moonland”.
Outra das minhas preferidas é “Today´s Lessons” que às vezes parece anos 80 com seus tecladinhos cafajestes, às vezes parece moderna demais com seu ritmo contagiante. Lembrou-me alguns rocks dos Stooges e “Rock´n Roll” do Velvet Underground. Aliás, a personagem da música também é uma Jane qualquer.
“Albert Goes West” é outra com uma pegada em alta voltagem em que Cave convida “Do you wanna dance? / Do you wanna move”, mas admite que não responde por seus atos. Destaque para a percussão canalha e para os backing vocals com direito até a um “shala-la-lá” emoldurado por guitarras distorcidas. Aliás, os backings vocals bizarros são uma atração à parte do Cd. Eles aparecem novamente, brigando para não serem soterrados pela cozinha e pelas guitarras em “We Call Upon the Author”.
O CD termina com os quase oito minutos, quase suaves de “More News From Nowhere”. Mais uma crônica sobre como os seres humanos podem ser estranhos, na escola em que Cave aprendeu com Lou Reed, Leonard Cohen e outros bardos do lado amargo do rock´n roll.
Recomendo “Dig, Lazarus, Dig!” pra quem gosta de rock adulto que fala de amor, morte, drogas, sexo, beleza, tristeza e caos urbano embalado por um som que reflete o que o rock tem de melhor como agressividade, barulho, experimentação, ousadia, riffs poderosos e hipnóticos, refrões legais e nada, absolutamente nada de pretensões virtuosísticas e do bom mocismo que infecta o rock atual. Para iniciados.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Carta do Pedro – direito de resposta.

Como zoei o Pedro publicamente por ele ter perdido o show do Nick Cave, me senti na obrigação de conceder o direito de resposta a ele, também publicamente. Aí vão as razões do meu irmãozinho. Publicando o texto que o Pedro mandou por e-mail me livro de atualizar o bloguinho e ainda me sinto o mais generoso dos donos de blog. De quebra, forneço aos meus seletíssimos leitores um pouco de aventura nas Oropa.
Aí segue:

Meu caro,

O show do Nick Cave era algumas semanas depois do meu tempo por lá,
tirei a foto para você ver mesmo. Veja só, coisa boa sempre.
Quanto aos shows, é foda, agora tenho permissão de trabalho e se tudo der certo
a partir da semana que vem vejo uma vaga numa escola fundamental para filhos
de família de língua portuguesa (Portugal, os cinco africanos, Brasil e os filhos de jogadores).
O trabalho se resume a cuidar das crianças depois da aula, ajuda-las nas tarefas de alemão, português e inglês. Há projetos semelhantes para filhos de todas as línguas que você possa imaginar. Vamos ver no que dá.
Eu não estou indo muito nos shows, perdi aliás UK Subs num bar pulgueiro histórico aqui de Berlin, mas sempre há muitos por aqui, o difícil é acompanhar, prefiro nem saber na maioria das vezes.
No entanto tenho ido muito à ópera, sei que você vai chiar, mas tô pouco me fudendo. Para alguém que gosta de literatura, teatro e música é o programa perfeito, tenho visto grandes regentes, cantores e encenações. Meus netos terão que decidir do que se orgulham e do que não, em todo caso isto virá com o tempo ou nunca virá. Mas não me arrependo, cada obra vista é uma noite sem dormir, pensando naquelas tragédias, naquele som magnífico, em toda a montagem e num onte de estórias canônicas ou não que foram necessárias para que o librestita e o músico fizessem a parada. Uma grande curtição!
Estou a dois meses daquela prova escrota e de novo estou na curva final e agora é uma questão de honra e sobrevivência, os alemães são maus, podes crer.
A foto do seu filho é muito fofa, cheio dos agasalhos e com um sorriso de fera.
Eu não sei se terei netos tão cedo, de fato já fiquei para tio, não tenho mulher e muito menos filhos, embora tenha vontade de ter os dois, mas enquanto for estudante a coisa será difícil. O David não é parâmetro pra nada, terá show do Slayer e do Kreator (banda local) e o cara amarelou. Melhor assim, perder Neil Young e ir no Kreator é mais do que sacrilégio, é idiotice elevada ao vigésimo grau. O lance é que o tempo é corrido pacas e escrever o trabalho em meio a tantos outros trabalhos acadêmicos é sinistro, tempo curto para professores exigentes, sem contar minha exigência que cá entre nós não é pouca.
Seguindo conselho da minha sobrinha Clarinha que havia montado uma página para mim no Orkut ativei a minha naquela farofa e em menos de um mês tinha uma caralhada de pessoas lá falando comigo, gente do Rio, de Botucatu, dos tempos dourados de Bauru (Bira inclusive, casão, dei seu blog e o cara ainda não passou lá, tem filho agora, Pedro aliás), de Assis e tal.
Numa dessas encontrei a Carmina Juarez numa amiga em comum, mandei um recado pra ela falando daquele famoso ensaio, ela me respondeu me chamando de Dudu (meu nome por lá) e me dizendo doçuras, baba mané!
No mais é isto, muita farofa e desafios pela frente.
E viva Arrigo Barnabé.
Até Mar.
Pedro.

sábado, 3 de janeiro de 2009

O SHOW QUE O PEDRO PERDEU



Só matando esse cara. O Nick Cave acabou de lançar "Dig, Lazarus, Dig" o melhor cd de 2008... Tinha que roubar, matar...só não dava pra perder.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Viver em 2009

Viver é plantar e manter um jardim,
Ou seja,
Entrar na guerra perdida contra as pragas.
Tudo de novo.