sábado, 29 de agosto de 2009

A parolagem da vida

Palavras ao léu. Parolagem na tarde. “Sempre” é uma palavra comum. Já a expressão “para sempre” dá um certo medo. Uma coisa que não sei bem o que é. O avesso dos contos de fada com o “viveram felizes para sempre”. Fico pensando em alguém preso para sempre no inferno ou emparedado. Emparedar, tudo preso entre cimento e tijolos. Tudo. Corpo e alma. E a alma é uma coisa que dá medo de ter presa. Por isso “para sempre” é uma expressão foda. Mas se a gente analisar mesmo é só papo porque tudo é transitório.
Tudo é impermanente, palavra que essa merda de Word não reconhece. Tudo passa. O homem é transitório. Tudo que está aqui ao meu lado nesta sala vai sumir. A sala bonita que planejamos vai sumir. O piso caro, a mesa bonita, as paredes de um tijolo, a lareira pintada de vermelho com o decalque dos Beatles. Os quadros do Taxi Driver e dos filmes do Almodóvar. Um dia essas paredes que parecem sólidas não existirão. A televisão e toda a merda que passa por ali vão sumir. As coisa legais também vão. Cara, o Faustão é passageiro. Embora meu pessimismo crônico às vezes me faça duvidar disso.
Revi, dia desses, uma edição do programa Fábrica do Som em que o Claudio Willer leu um trecho do “Uivo” do Ginsberg. Falou-se sobre a beat generation. Apareceu o Leminski perguntando se beatinik era algum dissidente soviético. Escrevo ouvindo La Carne, “Demônio Triste”. É realmente uma boa banda. Pesada. “Jukebox” é uma boa música.
Também vi o Raul Seixas na Fábrica do Som. Falou-se muito do Raul nas últimas semanas pois fez 20 anos da morte dele. Na Fábrica ele dublou. O público ficou alucinado quando Tadeu Jungle anunciou Raul. Então ele entrou de botas, calça e jaqueta de couro e dublou “Punct Plact Zum” e “DDI”. Parte do público ficou puta com a dublagem. Mas parte dançou e aplaudiu loucamente o maluco beleza, mais maluco do que nunca ao fazer uma performance “fake” deslavada para um público jovem e meio inquieto.
Raul era pura bagaceira, fuleiragem. Dava na cara do bom gosto. “Tudo o que não é americano em Raul Seixas é bahiano demais”, disse Gil ou Caetano, sei lá. Penso também no sentido da palavra baiano para os paulistas, algo brega de mau gosto. Raul é isso também. É sub. É da empregada. E é bom rock´n roll. Cada vez acho melhor.
Tudo é transitório. Lembro que quando Raul morreu eu e o Txélos ficamos ouvindo o Krig-Há Bandolo emocionados e quase tristes nos nossos dezesseis anos. Tudo é transitório. Mas o brado dos bêbados, dos chatos, dos velhos malucos sem noção e, por incrível que pareça, de outros adolescentes meio “gauche” na vida como nós fomos, vai ficando por aí. Toca Raul porra!

4 comentários:

Dig Dig Dig disse...

Mas diga lá: a repeticao do texto é para afirmar que mesmo apesar de tudo ser transitório seguimos afirmando nossas vidinhas ?

Bel disse...

É isso aí dig dig, é isso mesmo??

Anônimo disse...

Acho que nosso caro autor nos deixou aqui sozinhos falando com os pés de tangerinas magnéticas que você fez o favor de plantar. Diga lá sao tangerinas ou laranjas magnéticas ? Os pés devem estar nos Jadins Elétricos da vida, nao ?
Beijocas amplificadas.
Dig Dig Dig.

Tcheloki disse...

Que alegria ver a nata da malandragem parolando na garagem do bloguinho.

BelBel parabéns, a festinha tava ducacete!

Pedrisco é sempre bom ter você por perto para sempre, mesmo longe.

Preto Véio te espero para comemorar nossas independências.