quarta-feira, 29 de junho de 2011

O primeiro festival de blues

Em 1989 eu tinha dezesseis anos. Foi o ano do primeiro festival internacional de blues, realizado em Ribeirão Preto, na Cava do Bosque. Fizemos uma barca eu, o meu cumpadre Txélos e os irmãos Fabrício e Sujeira que tinham família por lá.
Pegamos um ônibus e chegamos na cidade numa sexta-feira, fim de noite. Caminhamos da rodoviária até a casa em que ficaríamos hospedados. Fomos bem recebidos pelos avós de nossos amigos e aí começou o deleite. Fabricio e Sujeira tinham um tio que morava lá e, na época, estava viajando pela Europa. Fomos instalados no quarto dele.
O detalhe: o cara tinha a maior coleção de discos que já vi até hoje. Eram armários e armários, guarda-roupas e prateleiras cheias de som. 90% das coisas em vinil, mas ele já tinha muitos CDs. Nessa época acho que eu ainda nem tinha visto um CD. Ouvíamos os clássicos vinis e as infalíveis, ou melhor, muito falíveis, fitinhas cassete.
Foi, portanto, uma viagem absolutamente musical. Além do festival de blues, passamos todo aquele final de semana ouvindo sons, grande parte deles coisas sobre as quais eu já havia lido mas que na minha cidade simplesmente era impossível encontrar. Foi lá que ouvi Lou Reed pela primeira vez. Voltei pra casa com uma fitinha com o Legendary Hearts. Com o passar dos anos a fita acabou. Só recentemente eu baixei da net esse disco. Não é dos melhores do Lou Reed mas tem valor afetivo. Gosto de ouvir “Rooftop Garden” e outras para lembrar daquela época.
Também foi na casa do tio dos meus amigos que ouvimos Mutantes e Arnaldo Baptista pela primeira vez. Lembro que o cara tinha uma cópia do “Lóki” autografada pelo Arnaldo. Vai vendo. Voltei de lá com uma fitinha com “Mutantes e seus Cometas no País do Baurets”. Detalhe: acho que esses discos estavam totalmente fora de catálogo na época. Se não me engano, as reedições da Baratos Afins vieram um pouco depois.
Além desses sons o tio deles tinha uma coleção impressionante de rock progressivo. Discografias completas de Yes, Emerson, Lake & Palmer, King Crimson, Genesis, Pink Floyd, Jethro Tull e até bandas menos conhecidas como Gentle Giant e Focus. Esse tipo de som não me fez a cabeça na época e ainda não consigo engolir. Na verdade, gosto de muitas coisas do Pink Floyd e de algumas do King Crimson e do Jethro Tull. O resto é muito punheta. Yes é uma das piores coisas que existem sob o nome de rock.
Além dos grandes sons descobertos lá, teve o festival propriamente dito. Naquela edição, tocaram Buddy Guy, Junior Wells, Etta James, Magic Slim. O show que vimos teve André Cristovam abrindo e Albert Collins, "the master of the Telecaster" como atração principal.
O blues parecia que ia estourar no país. André Cristovam havia acabado de lançar “Mandinga” e o Blues Etílicos “Água Mineral”. Os dois discos se tornaram clássicos do blues nacional. Se não me engano, foram lançados pela Eldorado.
Lembro poucas coisas das apresentações. Havia um ótimo público e todos cantavam as canções do André Cristovam, principalmente “Mandinga”. Mas havia “Confortável”, versão para “Built for Confort” do Howlin Wolf, “Dados Chumbados” e uma que falava do roubo do Cristo Redentor.
Do show do Albert Collins lembro menos. A guitarrista base era uma menina loira de boina e o som foi muito mais pauleira do que no show do André Cristovam.
Mas foi uma viagem do caralho. Num período que ando louco pra viajar, sair da rotina e não tenho grana nem tempo é legal lembrar do Festival de Blues. Uma das tantas viagens musicais que fiz. Talvez a primeira. Elas sempre valeram a pena.
Abaixo, sons de André Cristovam e Albert Collins, só pra relembrar.