segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Vic Chesnutt


Um dos grandes trovadores do folk rock atual morreu no último dia 24 de dezembro, depois de ter passado uma semana em coma em função da ingestão de 100 comprimidos para relaxamentos muscular.

Chesnutt tinha 45 anos e vivia em uma caderia de rodas desde os 18 anos em função de um acidente automobilístico.

Lançou 13 discos solo e, em 1996, ganhou um disco tributo chamado "Sweet relief II", com renda revertida a um fundo que auxilia músicos com problemas de saúde. No disco, artistas como Madonna, R.E.M., Garbage, Smashing Pumpkins, Soul Asylum e Live cantaram músicas de Chesnutt.

Curiosamente, alguns dias antes do Natal baixei o disco do Sparklehorse, chamado “Dark Night of the Soul”, que li por aí que os críticos consideraram um dos melhores de 2009. Além da participação de vários famosos, como Iggy Pop, Julian Casablancas e Black Francis, o disco traz Vic Chesnutt cantando a faixa-título e “Grain Augury”. Recomendo.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Abrace a escuridão – Charles Bukowski


o verdadeiro deus é a desordem
o verdadeiro deus é a loucura

viver em paz permanente é
viver permanentemente morto

a agonia pode matar
ou
a agonia pode dar sustentação à vida
mas a paz é sempre horripilante
a paz é o que há de pior
caminhadas
conversas
sorrisos,
a aparência das coisas.

não se esqueça das calçadas
das putas,
da traição,
do verme na maçã,
dos bares, das cadeias,
dos suicídios dos amantes.

aqui na América
assassinamos um presidente e seu irmão,
outro presidente desistiu do cargo.

pessoas que acreditam em política
são como pessoas que acreditam em deus:
estão chupando vento através de canudos curvos.

não há deus
não há política
não há paz
não há amor
não há controle
não há plano
fique longe de deus
siga perturbado

deslize.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Bukowski, paternidade e outras bobagens.


Finalmente comecei a ler o “Textos autobiográficos” do Bukowski que a L&PM lançou recentemente. Está sendo muito bom reler o velho Buk. Há muita poesia nas coisas dele. Acho que muita gente que não conhece o cara imagina que são só bebedeiras, tosquices e escatologias enfileiradas nas páginas. Pois o lance é que o cara tinha as manhas de fazer brotar das entrelinhas do seu texto cru uma poesia que nasce da dor, da solidão e da falta de sentido da vida que, ao mesmo tempo que é dura e opressora, também oferece infinitos caminhos para os corajosos interessados em explorá-los.
Fazia tempo que não lia o velho Buk assim, pegar um livro e lê-lo inteiro. Li “Cartas na Rua” com uns 14 ou 15 anos, numa edição daquelas do Círculo do Livro que guardo com carinho até hoje. Depois li “Mulheres”. Devia ter uns 17 ou 18 anos. Acho que cheguei a reler os dois, mas faz tempo pra caralho. Lá se vão, portanto, quase vinte anos e muitas cagadas na vida. Depois disso, só contos esparsos naqueles livrinhos da própria L&PM.
“Textos autobiográficos” reúne trechos de muitos dos livros de Bukowski e dispondo estes recortes em ordem cronológica (não de publicação, mas de acontecimentos) vai compondo uma espécie de autobiografia do velho safado. Achei muito interessante e dolorosa a parte sobre a infância e juventude. Não tinha lido nada sobre esta fase da sua vida. A maior parte dos trechos dessa fase é retirada do livro “Misto Quente” que eu nunca li.
Ele fala muito sobre o pai, um brutamontes violento, entregador de leite e louco para ser ou pelo menos parecer rico. Me fez pensar sobre o lance da paternidade. Agora sou pai e isso traz uma responsabilidade louca. Fiquei pensando qual seria o grande papel de um pai... Conclui que pai serve mesmo é para mostrar aos filhos que não existem heróis e nem seres humanos perfeitos. As pessoas são falíveis, cheias de problemas, incoerentes e imperfeitas. O pai é o cara que vai deixar isso claro, pois de herói na infância vai passar à categoria de idiota, em maior ou menor grau, quando o filho atingir a adolescência. O resultado desse processo todo é que talvez determine como se dará a convivência na vida adulta do filho. É muito provável que meu moleque, que hoje agarra minhas pernas e pede para voar pela casa nos meus braços, um dia ache ridículo o jeito como eu falo e os valores que eu tenho. Sei lá...
Mas espero que eu o ajude a ser um cara legal. Mostre para ele os bons sons e os bons livros. Quando tiver 14 anos posso jogar nas mãos dele o “Cartas na Rua”, ler com ele os poemas do Fernando Pessoa ou até o “Feliz Ano Velho” que eu acho que é o livro responsável pela minha opção pelo lado “gauche” da vida. Um dia ainda vou escrever sobre isso aqui... Espero que passada a turbulência possamos ouvir um som juntos e que eu não atrapalhe muito os passos que ele resolver dar.
Só pra terminar, resolvi transcrever um pequeno trecho do Bukowski que nos faz pensar sobre escolhas e tal. Assim o post termina em grande estilo:

“Eu era pobre e ficaria pobre. Mas eu não queria particularmente dinheiro. Eu sequer sabia o que desejava. Sim, eu sabia. Queria algum lugar para me esconder, um lugar em que ninguém tivesse que fazer nada. O pensamento de ser alguém na vida não apenas me apavorava mas também me deixava enojado. Pensar em ser um advogado ou um professor ou um engenheiro, qualquer coisa desse tipo, parecia-me impossível. Casar, ter filhos, ficar preso a uma estrutura familiar. Ir e retornar de um local de trabalho todos os dias. Era impossível. Fazer coisas, coisas simples, participar de pique-niques em família, festas de Natal, 4 de Julho, Dia do Trabalho, Dia das Mães..., afinal, é para isso que nasce um homem, para enfrentar essas coisas até o dia de sua morte? Preferia ser um lavador de pratos, retornar para a solidão de um cubículo e beber até dormir.”

sábado, 19 de dezembro de 2009

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Noite fria na alma

Cortam árvores no bairro, covardemente, burramente, mas às 6:04 da madrugada ouvi o primeiro pássaro cantar e tumultuar minha insônia com aquela sensação foda de que a hora de pular da cama e começar a cavar a sepultura no trampo. O mundo bem que podia pegar fogo fora da minha cabeça. Aqui dentro ando cultivando o enfadonho hábito de passar mal com as coisas: os tiros, as putarias de políticos, o corte indecente das árvores, o Natal obrigatório. Percebo que ficar anestesiado é absolutamente necessário para a pura e simples sobrevivência. Hoje sinto vontade de silêncio, escuridão, ausência, solidão e completa imobilidade. Pelo menos até os entulhos da mente serem decompostos. Hoje tive vontade beber algo forte. Brindar aos fracassados, aos santos, aos penitentes, aos profetas, aos pássaros e às ilhas remotas onde um dia espero naufragar feliz.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Dylan psicodélico


As coisas andam muito negras e cinzentas por aqui. Vai um pouco de cor para quebrar a tendência.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Cântico Negro - José Régio

”Vem por aqui” - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Eu e meu espírito (de porco) natalino


Acho que tá uns cinquenta graus nessa noite! Calor da porra! Meu vizinho pós-adolescente estava berrando ao violão algumas merdas do Jota Quest, Charlie Brown e Los Hermanos. É terrível, mas tem solução. Coloquei na bandeja do aparelho alguns Hendrix e Johnny Winter. No talo! O aparelho seleciona as canções. Eu abro uma cerveja e vou beber lá fora. Não gosto de beber sozinho em casa, mas não tem outra alternativa. O blues em alto volume faz o aprendiz de mala musical desistir. E é isso mesmo. Quando tudo está perdido você tem que recorrer aos clássicos. Aí não tem erro. Eu nem estava no pique de ouvir música, foi apenas uma defesa contra o repertório intolerável do vizinho, mas foi prazeroso ouvir Hendrix e Johnny Winter, coisas que eu não botava pra rolar desde não sei quando. Como nostálgico incurável e assumido, adoro curtir essas velharias. Você ouve e não tem que pensar muito, nem prestar muita atenção. É só curtir e tocar aquela “air guitar” honesta. Nos últimos tempos, com a mente absolutamente cansada, ando preferindo coisas fáceis. Até gibi do Tex eu li esses dias. Neste fim de semana comprei uma Rolling Stone pra distrair, mas não tem como. A revista é uma grandiosa bosta. Não tem uma, umazinha sequer, matéria que preste. Terminei de ler o “Vida de Escritor” do Gay Talese, que enquadro nesta lista de coisas fáceis de ler. Foi prazeroso. É um tijolo que dá pra consumir rapidamente e tem algumas coisas sobre o método de trabalho dele que são interessantes. Não tem a urgência do Dr. Thompson, nem pretende ter. Mas é legal também, embora não tenha me despertado a vontade de ler outras coisas dele. Ah... li “Verão Índio” do Manara e do Pratt que achei do caralho. Os dias parecem imensos, não suporto mais o trabalho e ainda tenho uma interessantíssima matéria pra fazer sobre o abate de frangos pelo método kosher, exigido pela tradição judaica... é mole? Acho que vou oferecer para a Rolling Stone. Quem sabe eles não publicam ao lado de uma abalizada matéria sobre as reais perspectivas da filha (ou filho) da Ivete Sangalo se tornar modelo e atriz de Malhação. Conto os minutos para as férias, mas no caminho ainda tem Natal e Ano Novo que eu detesto com todas as minhas forças, mas vou fazer o possível para não atrapalhar e aceitar todas as programações familiares que me forem impostas sem reclamar... muito. Também tenho acompanhado a melhora do Mario Bortolotto e todo o movimento que seus muitos amigos têm feito pela sua recuperação e para ajudar nas despesas que a família vai ter e coisa e tal. Acho que acabei acertando quando falei de amor no último post. É isso que tenho visto nessa história toda. Acho que é isso que vai ficar. E a vida segue... a minha no ritmo do congestionamento que peguei na Marginal Tietê ontem quando fui resolver minhas paradas na Secretaria de Cultura. Pelo menos dessa vez a menina que me atendeu foi simpática, eu achei. Talvez as coisas andem bem, talvez haja esperança, talvez seja o espírito natalino que muito filhadaputamente induz as pessoas ao erro (eu nunca senti o tal espírito, embora erre mais do que o desejável), talvez o calor esteja me provocando miragens. O negócio é deixar o blues rolar para calar a boca do vizinho.

Eu e o Polako Loko Paka mandando um blues pra azucrinar o vizinho.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Strange Days

“Viver é muito perigoso”. É o refrão da música “O que Diga”, do Jean Garfunkel, que concorreu aqui no Festival que ajudei a organizar. Ficou em quarto lugar. No início da noite de hoje cheguei de viagem e li sobre o Mario Bortolotto. São dias estranhos. Abandonei o blog por causa dos muitos compromissos de trabalho que me valeram uma estafa que desembocou num início de depressão. De novo. Devagarinho eu tô recompondo meus nervos e ando até que muito bem com várias agulhas espetadas na orelha que deixariam a Tânia orgulhosa de mim. Quando estava pensando em voltar a escrever aqui no bloguinho vejo a notícia, chamo a Aline, ficamos pasmos...vontade de viver num país um pouco menos filho da puta do que este. Eu tava devendo notícias sobre o festival, sobre o CD que produzi dos cantadores de cururu aqui da região, sobre nossa amizade com o Walter Franco, que rendeu uma noitada de violão até as 6h30 da manhã aqui em casa, sobre o “Vida de Escritor” do Gay Talese que eu tô acabando de ler. E porra...vem isso... Foi lendo o blog do Bortolotto que eu tive vontade de fazer o meu. Tantas visitas lá me fizeram me sentir amigo do cara. Certamente seria um bom papo tomando umas e falando de som com o Txélos e o Pedro, fazendo piadas e rindo do grande absurdo que permeia todas as coisas, especialmente as sérias. Acho que foi o Bergman que disse que o “amor é uma horrível ocupação”. Mesmo assim, talvez seja a melhor ocupação que nos é destinada no tal de vale de lágrimas pelo qual rastejamos. Talvez seja hora de dizer que amo meus amigos todos e os quero sempre por perto, mesmo que longe dessa serra gelada. Amo muito a Aline, que cuida de mim com paciência, e amo mais que tudo meu projeto de furacão, branquelinho, correndo pela casa e ameaçando constantemente meu aparelho de som. São dias estranhos. Pro Mario, daqui de longe, fica a torcida para que o amor dos seus muitos amigos, aquele que brota dos muitos momentos bons vividos compartilhando cervejas, ensaios, madrugadas e vidas te faça segurar a onda. Minha oração vai em forma de música. Uma que faz meu irmãozinho Pedro chorar, de tão linda que é... E quem sabe ainda não tomamos aquela juntos?