terça-feira, 6 de março de 2012

Um poema quase feito


Poema que eu não conhecia do velho Buk, roubado do blog do bruno bandido. Tá no livro "O amor é um cão dos diabos"

um poema quase feito

eu vejo você bebendo numa fonte com suas
minúsculas mãos azuis, não, suas mãos não são minúsculas
elas são pequenas e a fonte é na França
de onde você me escreveu aquela última carta e
eu respondi e nunca mais obtive retorno.
você costumava escrever poemas insanos sobre
ANJOS E DEUS, tudo em caixa alta, e você
conhecia artistas famosos e muitos deles
eram seus amantes, e eu escrevia de volta, está tudo bem,
vá em frente, entre na vida deles, não sou ciumento
porque nós nem nos conhecemos. estivemos perto uma
[vez em
New Orleans, metade de uma quadra, mas nunca nos
[encontramos,
nunca um contato. assim você seguiu com os famosos,
[escreveu
sobre os famosos, e, claro, descobriu que os famosos
estavam preocupados com a fama deles – não com a jovem e
bela garota em suas camas, que lhes dava aquilo, e
[que acordava
de manhã para escrever em caixa alta poemas sobre
ANJOS E DEUS. nós sabemos que Deus está morto, eles nos
[disseram,
mas ao ouvi-la eu já não tinha certeza. talvez
fosse a caixa alta. você era uma das melhores poetas e eu
disse para os editores, “publiquem-na, publiquem-na,
[ela é louca mas é
mágica. não há mentira em seu fogo”. eu te amei
como um homem ama uma mulher que jamais tocou,
[para
quem apenas
escreveu, de quem manteve algumas fotografias. eu poderia
[ter te
amado mais se eu tivesse sentado numa pequena sala
[enrolando um
cigarro e ouvindo você mijar no banheiro,
mas isso não aconteceu. suas cartas ficaram mais tristes.
seus amantes te traíram. criança, escrevi de volta, todos os
amantes traem. isso não ajudou. você disse
que tinha um banco em que ia chorar e que ficava numa
[ponte
e a ponte ficava sobre um rio e você sentava no seu banco de
[chorar
todas as noites e descia o pranto pelos amantes que
te machucaram e te esqueceram. escrevi de volta mas não
[obtive
qualquer retorno. um amigo me escreveu contando do seu
[suícidio
3 ou 4 meses depois de consumado. se eu tivesse te
[conhecido
provavelmente teria sido injusto com você ou você
comigo. foi mesmo melhor assim.

domingo, 4 de março de 2012

Cuando la crueldad no reconoce limites


Esqueça o Michael Jackson. Hoje foi dia de ver “Thriller –a cruel Picture”, filme sueco de 1974 que, ao longo dos últimos anos, adquiriu o status de cult para os apreciadores de filmes B. Acho que parte disso, se deve à homenagem feita por Tarantino à personagem principal do em Kill Bill, de certa forma revisitada pela personagem de Daryl Hannah.
Baixei “Thriller” e as informações que cito aqui estão no ótimo livro “Cemitério perdido dos filmes B”, de César Almeida, dono do blog “B Movies Box Car Blues”, linkado aí do lado.
O filme é produto da mente alucinada de um tal de Bo Arne Vibenius que, segundo César, chegou a trabalhar como assistente em alguns filmes de Bergman.
Vibenius quis fazer o filme mais comercial do mundo, reunindo elementos que arrastavam multidões aos cinemas: violência, mulheres bonitas, cenas de sexo e porrada.
Mas o filme saiu violento e doentio demais até para os padrões da liberal Suécia, onde foi proibido.
A história é a seguinte. Madeleine, uma garota muda desde a infância por causa de um trauma resultante de um abuso sexual, é sequestrada por um cafetão de luxo. Ele vicia a garota em heroína (perdi as contas de quantos picos há no filme) e obriga que ela se prostitua.
Com o tempo, Madeleine vai guardando a grana que recebe por seus programas e começa a preparar sua vingança com aulas de tiro e artes marciais.
Dentre as peculiaridades de “Thriller” estão as cenas de sexo explícito e o uso de um cadáver real na cena em que Madeleine tem seu olho arrancado pelo cafetão.
Apesar dessa podreira toda, o filme tem planos longos, bela fotografia e poucos diálogos, o que o aproximam visualmente dos chamados “filmes de arte” europeus.
As cenas da vigança de heroína, em slow motion, são um show à parte e seriam facilmente assinadas pelo próprio Peckinpah.
Segundo o livro de César, o filme foi editado e cortado de várias maneiras e exibido em vários países com diversos títulos diferentes. Mas hoje é possível achar a versão do diretor pela net afora. Interessante para quem quiser uma experiência cinematográfica estranha.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Under my wheels ou a miséria de nossas vidas parte 71



Under my wheels and far way
Uma mulher num navio fantasma
A boca de lobo que emana moscas
Um “desperado” de western spaghetti
Você me deixa nervoso e só me acalmo com o desfile de crimes no telejornal
Um projeto de lei, um atentado, um retrato falado
Diga adeus a seus adereços e sua jaqueta de couro
Estamos mais mortos que uma noite do deserto