quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Todas as cores da solidão no livro do Bruno Bandido

Tem um palhaço agressivo e um hooligan triste em algum lugar aqui dentro é o corajoso livro de estreia de um jovem escritor gaúcho que eu já conhecia do seu blog, onde ele sempre mostrou talento ao manejar um arsenal de referências interessantes para promover o seu tiroteio poético. No livro, Bruno Bandido ocupa sua trincheira de solidão e lirismo e usa elementos como sexo, drogas, rock´n roll, desolação, porradas na madrugada, miragens de uma felicidade fugidia e todas as perversões com que a vida nos bombardeia a cada esquina. E o bacana da parada toda é que, mesmo com sua destreza, o poeta não escapa de sair ferido da batalha. E não podia ser de outra forma. Os melhores escritores da cepa de Bruno Bandido são os que sabem que a guerra está perdida mas, nem por isso, tiram da reta. Escritos em primeira pessoa, os textos escancaram a sensibilidade do autor para descrever, ora com fúria, ora com um humor peculiar, cenas marcadas pelo absurdo do cotidiano ou por uma tristeza meio parente da loucura. Como no melhor Bukowski, o leitor fica sem saber se as desventuras de Fred Fudido, Negão Raridade, Cal Canalha, Letícia ou Cíntia Laura, vividas ao lado do narrador, são verdadeiras, incrementadas a partir de fatos reais ou inteiramente criadas. E isso, definitivamente, não é importante. Todas habitam o universo do poeta deslocado pelas vias tortas da vida. Os heróis vagabundos de “O rock´n roll dos idiotas”, a noite quase feliz iniciada na Galeteria Bambinos, os meninos de beira de estrada, a fascinante Sofia das noites de Porto Alegre, o fantasma que manja Tom Waits e sua pela orla de Salvador, todos compõem o jorro desvairado de almas solitárias que perambulam pelas paginas cometidas pelo Bandido. Não é literatura para todos os gostos (felizmente). Mas eu percorri velozmente todas as páginas. E recomendo a viagem. Para os que tentam desviar das balas e para os que as recebem com prazer.