quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Frank Jorge é foda



Esqueça o sonolento Nenhum de Nós e os pretensiosos Engenheiros do Hawai. O que faz o rock do Rio Grande do Sul importante no cenário roqueiro nacional são nomes menos conhecidos por aqui, mas que somam atitude, humor e ótimas referências para fazer rock de qualidade. Eu falo do trovador Julio Reny, do rei do punk-brega Wander Wildner e do poeta pop multinstrumentista Frank Jorge, que lançou no finalzinho de 2008 seu terceiro CD solo.
Frank é um veterano da cena gaúcha. Integrou grupos fundamentais do rock dos pampas como os Cascavelletes, a Graforréia Xilarmônica e os Cowboys Espirituais. Produziu o ótimo CD de estréia dos The Darma Lovers e teve suas canções gravadas por nomes consagrados como os grupos Ira e Pato Fu.
Intitulado simplesmente “Vol.3”, o novo CD sucede o fundamental “Carteira Nacional de Apaixonado”, lançado em 2000, e o pouco lembrado “Vida de Verdade” de 2003. Assim como nos seus dois trabalhos anteriores Frank Jorge elabora seu coquetel roqueiro à base de rock´n roll básico, new wave, psicodelia, humor, ironia, romantismo e imensas doses de jovem guarda, sua principal influência. Tudo isso estruturado com versos elegantes e ótimos refrões.
“Elvis”, a faixa de abertura, pode ser considerada uma síntese do trabalho, com seu refrão espirituoso e de uma verdade “inapelável e crudelíssima”, como diria Nelson Rodrigues: “Elvis na fase decadente/ É bem melhor que muita gente”.
A irônica metralhadora verbal do gaúcho aponta até para o próprio trabalho em “Obsessão anos 60”, em que ele canta sobre uma base totalmente “jovem-guardística” “Não suporto mais esta obsessão pelos anos 60/ Não consigo explicar/ Só sei que ninguém mais aguenta”.
“A Historiadora” é a impagável história de uma acadêmica sisuda que vive entre teses e pesquisas científicas, mas que guarda escondida no armário uma fita do filme erótico japonês “O Império dos Sentidos”.
Uma das minhas preferidas é a balada “O que sobrou do mundo”. Para variar a estrutura musical é jovem guarda pura, mas ao invés das declarações de amor adolescentes semelhantes às que cantavam o Tremendão Erasmo Carlos, a Ternurinha Wanderléia ou o Rei Roberto, aqui o cantor tece cenários típicos da classe média brasileira, às voltas com problemas financeiros e tédio no casamento. “Um dia, se o salário melhorar/ Meu plano é viajar/ Levando as crianças/ Um cadeado vou botar no frigobar”.
O tema do amor desgastado também está na ótima “Não Espere Mais Nada”. Mistura de Beatles e Roberto Carlos, tem uma deliciosa melodia e a letra esperta com versos como “Nossa vida nos primeiros tempos foi muito boa/ Saímos no tapa e depois recitamos um Fernando Pessoa”. O rockinho “Se Você Ainda Me Quiser” é outro rock´n roll a lá jovem guarda que encerra o CD de forma classuda.
Curiosidades: Frank Jorge já trabalhou na Secretaria de Cultura da cidade gaúcha de São Leopoldo. É poeta, apresentador de TV, professor universitário na Unisinos, onde leciona no curso de formação de produtores e músicos de rock, do qual é criador. Em “Vol. 3”, ele toca todos os instrumentos.
Esqueça a coleção de clichês acéfalos da Pitti ou dos tais Fresnos e NXs. Se você estiver afim de um bom disco de rock nacional, bem produzido, com letras inteligentes, românticas e engraçadas, Frank Jorge é o cara.

2 comentários:

língua pop disse...

pode crer. puta bom esse disco!

Adriana Gehlen disse...

o sonolento Nenhum de Nós e os pretensiosos Engenheiros do Hawaí, são bem isso, e não me acrescentam nada.

Frank é uma lindeza.