domingo, 12 de dezembro de 2010

Meus problemas com as mulheres



Os Estados Unidos são um dos lugares mais estranhos do planeta. Gostamos de falar das contradições do Brasil, mas os americanos não nos devem nada. Muito pelo contrário. A coisa lá é sempre “over”, elevada à enésima potência em qualquer ângulo que se olhe.
Na terrinha do Tio Sam abundam facistas, puritanos, racistas, belicistas, moralistas (dos falsos e dos verdadeiros), pastores televisivos, nacionalistas e tosquices conservadoras de todos os tipos. É um lugar no qual ainda é possível encontrar segmentos significativos da sociedade que levam a sério o criacionismo.
Pois é desse mesmo barro que surgiram os beatniks, os hippies, os punks, o cinema exploitation, os panteras negras. Figuras controversas e talentosas usaram alguma passagem secreta no meio da muralha de fumaça do american way of life. Os Estados Unidos geraram Larry Flint, Hunter Thompson, Lou Reed, Timothy Leary, Lenny Bruce, John Cassavettes, Orson Welles e mais uma caralhada de gente que produziu ruídos e instabilidade no sistema.
Não vou citar artistas, figuras políticas e movimentos. Escrevo direto, sem pesquisar nada sobre o tema. Mas acho que dá pra entender o que quero dizer. O país do Mickey Mouse também é o país do Bart Simpson e do South Park.
Dentro desse panorama Robert Crumb é uma outra figura emblemática. O “princípio ativo” do seu trabalho é expor essa América contraditória que afirma valores com veemência na porta de frente enquanto a putaria vai transbordando pelas janelas.
Acabo de ler mais um livro de Crumb lançado pela Conrad. É “Meus problemas com as mulheres”. Compilação de histórias e desenhos feitos por Crumb ao longo da carreira, o livro deixa claro como o desenhista nerd esquisitão passou a “comedor” quando fez sucesso no circuito contracultural na década de 60 com seus quadrinhos anárquicos.
A conhecidíssima fixação de Crumb pelas mulheres bundudas e de pernas grossas também é dissecada no livro. Confessional, sincero, engraçado, desconcertante “Meus problemas..” é tudo, menos monótono. Odiado pelas feministas, Crumb dá nome e sobrenome a todas as musas de seus delírios masturbatórios, expõe e reflete sobre suas taras mais absurdas.
Depois de ler, fiquei na pilha de rever o documentário “Crumb” de Terry Zwigoff, que vi numa tarde do logínquo 1996, num Cinesesc vazio. Vale a pena procurar o filme na net. Além das taras de Crumb, há a incrível história de seus irmãos malucos. Nunca dá pra ficar indiferente a Crumb.
Ah... e o prefácio escrito pela atriz Fernanda D´Umbra é do caralho.

Um comentário:

Pedro Kaverna. disse...

Bel querida,
muito obrigado por lembrar de mim.
Daqui de Berlin as lembrancas das nossas boêmias desvairadas permanecem como relâmpagos de magnetismo, assim como suas tangerinas magnéticas enradiando os horizontes e encurtando as distâncias. Abraco enorme & beijao,
Até Mar. Pedro.