domingo, 8 de maio de 2011

Outras estradas de Kerouac


Acabo de ler “Anjos da Desolação”, de Jack Kerouac, lançado no Brasil pela L&PM. O começo do livro é um pouco difícil, como se nos contaminássemos com o desconforto do autor em sua cabana isolada nas montanhas, onde trabalhou como vigia de incêndios. Sob o pretexto de refletir, vivenciar a experiência da solidão, Kerouac parece nervoso como se calafrios lhe oprimissem a medula. É desconforto, mais do que reflexão. É como se seu olhar, aparentemente cansado de chão, também tivesse dificuldades para encarar o turbilhão interno.
O poeta desce da montanha e cai na estrada e o livro também cresce. Kerouac volta a viajar pela América mítica, depois México, Tânger, Paris até a volta a Nova Iorque. E aí vai apresentando as histórias que queremos ler de suas aventuras ao lado de Ginsberg, Corso, Burroughs, Neal Cassidy, suas mulheres e outras figuras da época. Viagens de poetas que mastigavam a vida com dentes vorazes e hoje nos soam muito românticas.
“O mistério corria pelas ruas em chamas” mas o autor começa da dar sinais de cansaço, falando em se proteger do caos da sua vida estradeira. Começa a desejar um pijama, uma varanda, silêncio em manhãs frias com a mesma sofreguidão de seu apetite por caminhos desconhecidos.
Nunca fui um grande leitor de Kerouac. Li “On the Road” mil anos atrás, alguns textos esparsos e, mais recentemente, “E os hipopótamos foram cozidos em seus tanques” e “Visões de Cody”. Do que eu li, foi o texto em que ele escreve mais diretamente sobre o isolamento em que se meteria até o final da vida, longe dos velhos companheiros de labaredas memoráveis.
O texto livre de Kerouac é sempre interessante e algumas passagens das viagens são fantásticas. Vale a pena, de qualquer maneira. Como sempre, estrada, amor e poesia. No que isso tem de prazeroso e perturbador.

2 comentários:

bruno bandido disse...

tenta ler Big Sur, Sérgião. Ele pega mais forte nessa toada de desolação.

Sérgio disse...

Boa dica velho. Vou conferir.