sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

And now, cara-pálida

Em casa, terminando o ano, ouvindo Los Lobos e pensando em toda a merda e em todas as coisas boas que deixei de contar nesse blog. Acho que ninguém sentiu muita falta dos meus textos toscos. Curti, ainda curto, a ideia do blog, por mais fuleiro que ele seja. Na verdade, só deixei de escrever porque o trabalho foi monstruoso esse ano. E no pouco tempo que sobrou preferi ler, ouvir algumas coisas ou brincar com meu filho. Ou seja, sobrou para a escrita, para o blog. Também deixei uma tentativa de peça teatral inacabada. Pretendo dar um trato nela em breve. Não por achar que vai dar em algo. Mas é que eu tenho muita vontade de entregar ao ostracismo eterno um texto chamado “Julio Reny canta para os solitários”. Outra coisa que vai rolar é a chegada do filho novo. Será outro moleque. A ideia é investir na futura dupla sertaneja para garantir o whiskão da velhice do pai maluco. Tô brincando. Na verdade, além de desejar saúde pro novo filho (ainda não escolhemos o nome) espero que ele se livre das principais maldições sociais dos nossos tempos: gostar de música sertaneja, ser curintxano e militar na juventude do PSDB. Enfim, que ele seja alguém com quem dá pra dividir uma cerveja honesta no futuro. Já já o silêncio vai pras picas com os fogos artificiais. Só espero que em 2013 haja menos trabalho chato, mais grana, mais amor, mais estados alterados de consciência, mais livros, mais som, mais silêncio, menos obrigações sociais, mais putaria feliz, menos gente que se leva a sério. E que eu volte a escrever nesse bloguinho. Nem que seja pra ninguém. Ninguém é bacana. Trilha sonora: "When the Circus Comes" - Los Lobos

terça-feira, 6 de março de 2012

Um poema quase feito


Poema que eu não conhecia do velho Buk, roubado do blog do bruno bandido. Tá no livro "O amor é um cão dos diabos"

um poema quase feito

eu vejo você bebendo numa fonte com suas
minúsculas mãos azuis, não, suas mãos não são minúsculas
elas são pequenas e a fonte é na França
de onde você me escreveu aquela última carta e
eu respondi e nunca mais obtive retorno.
você costumava escrever poemas insanos sobre
ANJOS E DEUS, tudo em caixa alta, e você
conhecia artistas famosos e muitos deles
eram seus amantes, e eu escrevia de volta, está tudo bem,
vá em frente, entre na vida deles, não sou ciumento
porque nós nem nos conhecemos. estivemos perto uma
[vez em
New Orleans, metade de uma quadra, mas nunca nos
[encontramos,
nunca um contato. assim você seguiu com os famosos,
[escreveu
sobre os famosos, e, claro, descobriu que os famosos
estavam preocupados com a fama deles – não com a jovem e
bela garota em suas camas, que lhes dava aquilo, e
[que acordava
de manhã para escrever em caixa alta poemas sobre
ANJOS E DEUS. nós sabemos que Deus está morto, eles nos
[disseram,
mas ao ouvi-la eu já não tinha certeza. talvez
fosse a caixa alta. você era uma das melhores poetas e eu
disse para os editores, “publiquem-na, publiquem-na,
[ela é louca mas é
mágica. não há mentira em seu fogo”. eu te amei
como um homem ama uma mulher que jamais tocou,
[para
quem apenas
escreveu, de quem manteve algumas fotografias. eu poderia
[ter te
amado mais se eu tivesse sentado numa pequena sala
[enrolando um
cigarro e ouvindo você mijar no banheiro,
mas isso não aconteceu. suas cartas ficaram mais tristes.
seus amantes te traíram. criança, escrevi de volta, todos os
amantes traem. isso não ajudou. você disse
que tinha um banco em que ia chorar e que ficava numa
[ponte
e a ponte ficava sobre um rio e você sentava no seu banco de
[chorar
todas as noites e descia o pranto pelos amantes que
te machucaram e te esqueceram. escrevi de volta mas não
[obtive
qualquer retorno. um amigo me escreveu contando do seu
[suícidio
3 ou 4 meses depois de consumado. se eu tivesse te
[conhecido
provavelmente teria sido injusto com você ou você
comigo. foi mesmo melhor assim.

domingo, 4 de março de 2012

Cuando la crueldad no reconoce limites


Esqueça o Michael Jackson. Hoje foi dia de ver “Thriller –a cruel Picture”, filme sueco de 1974 que, ao longo dos últimos anos, adquiriu o status de cult para os apreciadores de filmes B. Acho que parte disso, se deve à homenagem feita por Tarantino à personagem principal do em Kill Bill, de certa forma revisitada pela personagem de Daryl Hannah.
Baixei “Thriller” e as informações que cito aqui estão no ótimo livro “Cemitério perdido dos filmes B”, de César Almeida, dono do blog “B Movies Box Car Blues”, linkado aí do lado.
O filme é produto da mente alucinada de um tal de Bo Arne Vibenius que, segundo César, chegou a trabalhar como assistente em alguns filmes de Bergman.
Vibenius quis fazer o filme mais comercial do mundo, reunindo elementos que arrastavam multidões aos cinemas: violência, mulheres bonitas, cenas de sexo e porrada.
Mas o filme saiu violento e doentio demais até para os padrões da liberal Suécia, onde foi proibido.
A história é a seguinte. Madeleine, uma garota muda desde a infância por causa de um trauma resultante de um abuso sexual, é sequestrada por um cafetão de luxo. Ele vicia a garota em heroína (perdi as contas de quantos picos há no filme) e obriga que ela se prostitua.
Com o tempo, Madeleine vai guardando a grana que recebe por seus programas e começa a preparar sua vingança com aulas de tiro e artes marciais.
Dentre as peculiaridades de “Thriller” estão as cenas de sexo explícito e o uso de um cadáver real na cena em que Madeleine tem seu olho arrancado pelo cafetão.
Apesar dessa podreira toda, o filme tem planos longos, bela fotografia e poucos diálogos, o que o aproximam visualmente dos chamados “filmes de arte” europeus.
As cenas da vigança de heroína, em slow motion, são um show à parte e seriam facilmente assinadas pelo próprio Peckinpah.
Segundo o livro de César, o filme foi editado e cortado de várias maneiras e exibido em vários países com diversos títulos diferentes. Mas hoje é possível achar a versão do diretor pela net afora. Interessante para quem quiser uma experiência cinematográfica estranha.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Under my wheels ou a miséria de nossas vidas parte 71



Under my wheels and far way
Uma mulher num navio fantasma
A boca de lobo que emana moscas
Um “desperado” de western spaghetti
Você me deixa nervoso e só me acalmo com o desfile de crimes no telejornal
Um projeto de lei, um atentado, um retrato falado
Diga adeus a seus adereços e sua jaqueta de couro
Estamos mais mortos que uma noite do deserto

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Carnaval com pedras e filmes

Que o carnaval é uma bosta todo mundo sabe. Pra mim, nesse ano, foi especialmente chato. Passei boa parte dele num hospital sem poder sequer ler durante a internação. O bendito Buscopan despejado nas minhas veias para controlar a minha enésima pedra no rim embaralhava toda a vista.
Mas ainda me sobrou a terça-feira que eu aproveitei muito bem. Consegui ver três filmes da leva que baixei do Arapa Rock Motor (com links aí do lado).
O primeiro deles foi “Foxy Brown”, clássico da blaxploitation de 1974, com a Pam Grier (que Tarantino resgatou do limbo em Jackie Brown) no auge da gostosura, desfilando pernas e peitos magníficos. É impressionante como o filme é violento para a época. Aliás, se fosse lançado hoje seria extremamente polêmico e levaria pauladas das vestais politicamente corretas. Uso de heroína e cocaína, estupro, um cara triturado pela hélice de uma avião, um queimado vivo e outro castrado pela Pam Grier, além de muita porrada e ofensas raciais.
Não conheço muita coisa da blaxpolitation. Já tinha visto “Coffy”, também com a Pam Grier. Gostei dos dois. Me lembram filmes policiais baratos que a Record exibia durante a semana, no fim de noite, lá pelo início da década de 80. O curioso é que esses dois que eu citei são dirigidos pelo diretor Jack Hill. Branco até o caroço.


Depois de “Foxy”, emendei com “Two Lane Blacktop”, de 1971. É a versão “muscle car” dos “biker movies”. Dirigido pelo esquisitão Monte Hellman, tem no elenco James Taylor (sim, sim, o cantor de “You´ve Got a Friend”), o canastrão mor de filmes B dos anos 70, Warren Oates e Dennis Wilson, baterista dos Beach Boys. Além de uma ponta de Harry Dean Stanton como o caronista cowboy gay.
É um road movie estranhão, como tudo que vi do Monte Hellman. Mas é muito legal. Planos longos, uma América desolada, corridas de carro que parecem ser o objetivo de vida dos personagens mas que, quando são mostradas, parecem insignificantes diante do vazio da vida dos caras. Uma certa atmosfera de “sonho acabou”. Nos créditos, os personagens são identificados como The Driver, The Mechanic , The Girl e GTO (Warren Oates, identificado pelo modelo do carro). A sinopse no Arapa chama de “Road movie existencial”. O fim é do filme é do caralho. Recomendo muito.


Por fim, vi “When You´re Strange”, documentário sobre o The Doors, dirigido por um tal Tom Dicillo e narrado por Johnny Depp. Achei o filme muito foda. Várias imagens que eu nunca tinha visto, de shows e ensaios da banda. Várias coisas são interessantes no filme: uma tentativa de dissecar o som da banda, uma valorização da participação de John Desmore e Robbie Krigger e uma certa postura crítica em relação a Morrisson, muito comumente tratado como gênio ou “poeta maldito”. O documentário deixa tudo em aberto. Você pode achar Morrison um poeta angustiado e perturbado pelos seus próprios demônios ou simplesmente um rockstar narcisista que enfiou o pé na jaca do sucesso, como tantos outros.
Os Doors foram uma das bandas que mais ouvi na adolescência. Tinha montes de fitinhas Basf amarelinhas com os sons todos. Ouvi muito e a turma que eu andava na época também. Lembro de finais de semana na chácara de um amigo onde rolava muito Doors e Vodka Popov, a mais barata que havia. Muitos porres gestados numa atmosfera de “Break on the Trough”, em plena terra de Tonico e Tinoco. Bons e ingênuos tempos.
Acho que o bode com a banda começou junto com a febre desencadeada pelo filme do Oliver Stone. Aí virou meio carne de vaca demais. Tanto que hoje acho que tenho apenas dois Cds ao vivo do Doors e nenhum vinil. Mas sei cantar quase todas as letras mesmo sem ouvir há milênios. Depois do documentário fiquei com muita vontade de ter o “Morrison Hotel” e o “L.A. Woman”, principalmente. A música “L. A. Woman” é a minha preferida da banda. O vídeo postado era um clipe que tinha num VHS chamado "Dance on Fire" que aluguei mil vezes quando era moleque. O áudio desse VHS foi minha primeira fitinha dos Doors. Mr. Mojo Risin`!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Dylan


Bob Dylan no Brasil em abril. Fiquei querendo torrar os trocos do pão nosso de cada dia e meter a cara. Gasto tanta grana com remédios e tal, por que não gastar vendo o cara mais foda de todos os fodas do rock? I ain´t gonna work on Maggie´s farm no more.
Minha primeira lembrança de Dylan é ver a capa de “Infidels” na saudosa Discoteca da Cidade. Também via aquela capa na casa de um primo meio hippie. Eu era moleque, metaleiro, fã do Kiss e do Iron Maiden. Dylan era um clássico que me deixava curioso, mas parecia “música de adulto” demais.
Até que um dia comprei aquela bela coletânea “Greatest Hits” num supermercado em São Vicente, do lado da casa de uma tia. Gostei de cara. Teve uma vez que a Bizz publicou um livrinho com várias letras traduzidas, se não me engano quando Dylan veio para o Brasil a primeira vez.
Outra lembrança forte é de uma fitinha com o “Before the Flood” que foi trilha sonora de uma tremenda dor de corno nos meus tempos de faculdade. Ouvia “Don´t Think Twice” e “Just Like a Woman” e me sentia um pouco vingado.
Nos tempos de faculdade também consegui coisas legais pra caralho numa loja de discos estranha que tinha perto da estação ferroviária de Bauru. Eram os idos de 92. Comprei lá, em vinil, o “Desire”, o “Live at Budokan” e o “Highway 61 Revisited”. Também comprei vários do Bowie nessa loja. Os discos pareciam novos, mas eram vendidos a preço de usados. Nessa época ouvia muito o “Nashville Skyine”. O dueto com Johnny Cash é de arrepiar até hoje.
Meus preferidos do Dylan são o “Desire”, o “Time Out of Mind” e o “Blood on the Tracks”, mas putaqueopariu, gosto de quase tudo do cara... o filme Don´t Look Back é do caralho, tudo dos anos 60 é foda. Gosto muito dos últimos discos também. Do “Time Out...” pra cá. Nos 70 e nos 80 tem umas coisas mais fracas, mesmo assim tem discos muito fodas, como os que eu já citei, o “Basemet Tapes” e o “Oh Mercy”.
Meu irmãozinho Pedro( the german caveman) me deu o “Crônicas” é eu devorei. É do caralhíssimo. Fundamental pra você entender a arte do cara. Comprei a biografia do Howard Sounes, mas ainda não li.
Na última vez que fui na Galeria do Rock, comprei uma caixa com os dois CDs e mais um DVD do Traveling Wildburys, a banda que Dylan teve nos anos 80 com George Harrison, Roy Orbison, Tom Petty e Jeff Lyne. É muito legal também.
Se o mundo do rock está cheio de “guitar heros”, Dylan é o exemplo perfeito de “poetry hero” na música. Lembro de uma reportagem sobre ele numa velha Playboy cujo título era algo do tipo “Palavras com a força de um trovão”. Não sei se é isso mesmo, mas o fato é que seu texto pode ser incandescente, seja nas canções mais políticas, nas místicas/messiânicas ou nas de amor. Mesmo assim, o pé no aspecto mais tradicional da canção popular está sempre lá. O próprio trabalho com o Traveling Wildburys mostra isso.
Ouvindo os primeiros de Dylan, a série Bootleg e os discos “Good as I Been To You” e “World Gone Wrong”, além da leitura do “Crônicas”, dá Ra perceber o quanto o cara conhece da tradição musical americana. Dylan ouviu muito os mestres do passado e conseguiu, em certa medida, reinventar essa música. Isso não é pouca coisa.
Agora é esperar pra ver o preço dos ingressos e torcer pra não ter nenhum show desastroso de abertura. Lembro alguns casos clássicos de trapalhadas dos promotores em shows que vi: o patético Angra abrindo para o AC/DC no Pacaembu, em 1996 e um ex-sertanojo (Edson, Hudson, Ibson?) com uma bandinha cover do Guns and Roses (com vocalistinha de bandana e tudo) abrindo para o ZZ Top. Já pensou ver a Mallu Magalhães ou o Capital Inicial abrindo para Dylan? Um show do Julio Reny seria demais, né? Mais aí já é superfaturar o milagre...
Quem sabe, ainda esse ano, alguém se anima a trazer o Tom Waits, o Bruce Springsteen e o Leonard Cohen?

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Poema pobre pensando em Sérgio Sampaio


Beatles nos fones de ouvido
Blues e diamantes sob os arcos da Lapa
Em velhos verões
Os navios fantasmas na Baía da Guanabara
Fogem dos olhos
Entre trevas, poemas e os gols do Fantástico
Um gosto de samba com sangue
De Copacabana até as sombras do mangue

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Embalosde sábado na madrugada



Depois que um pernilongo sugou meu sangue entupido de remédios por um dos dedos do pé resolvi levantar de vez da cama e levar minha agonia para perambular pela casa. Tive vontade de ouvir “Just Like a Woman” na bela versão do “Before the Flood”, mas o povo dorme aqui em casa. Um amigo arranjou um novo amor e isso me deixou feliz. Um novo amor em Viena parece até título de filme com o Fred Astaire. Por aqui, sigo e vou. Parece que tem uma espada atravessando meu pescoço. Ganhei um cd de relaxamento que, dizem, vai me ajudar. Mas eu não tenho coragem de colocar pra tocar um cd de relaxamento. Meus rins seguem aos trancos e barrancos. Faz calor pra caralho. O documentário sobre o Paulo Francis que acabei de assistir terminou de forma melosa e lamentável. Hoje tentei nadar à tarde mas não consegui. Tudo no meu corpo parece estar precisando de ajustes. Como se não bastasse a velha mente que não desliga e também não resolve porra nenhuma. Tenho vontade de ficar sozinho num mosteiro ou algo assim, isolado do mundo. Paira misteriosa a velha sombra. O trabalho começou e o bode também. As pessoas são capazes de ouvir uma música onde o cara se declara orgulhosamente “bruto, rústico e sistemático” e dispara, orgulhosamente e em mau português proposital, patadas em gays e mulheres. O Reinaldo Moraes tá certo. A carneirada ganhou o jogo. Eles não sentem mais vergonha de serem estúpidos e ignorantes. Agora ofendem quem ousa ser diferente. Lembro de um moleque de 22 anos que trabalhava ao meu lado me ridicularizando porque eu lia um livro. E pior! Um livro escrito por uma mulher! Era o “Só Garotos”, da Patti Smith. Acabo de ver um especial sobre o Chico Science na MTV e fiquei lembrando dos anos 90. Saudades de velhos amigos. Saudades das tantas coisas que não fui. Ainda não ouvi o vinil do Tom Waits que comprei num sebo da galeria. Comprei a trilha sonora de “Shaft” também. Baixei “Chet Baker in New York”, de 1958. No meio desse turbilhão mental misturado com decadência física acelerada, duas decisões: Vou retocar minha velha tatuagem e começar a ler “A abadessa de Castro”, de Stendhal. Amanhã jogo bola com meu filho no quintal até os 12 do primeiro tempo, que é enquanto aguento. Andei reouvindo Sérgio Sampaio por conta de um vídeo que vi no blog do Ademir Assunção. Parece que vai sair um documentário sobre ele que, aliás, é padrinho desse malfadado blog (vídeo abaixo). Um gênio perdido. Ouço as maravilhas que ele fez e fico imaginado o cara desfilando pelas ruas do Rio na década de 70. Tocando e tentando achar o seu lugar. A cidade maravilhosa alegre e também sombria naquele período. A música cheia de dor, beleza, humor e um lirismo intenso não cabia nos ouvidos do povão. Sampaio era e se considerava um cantor popular. E não bateu pro povo. Deve ter sido foda a trajetória de maldito até o fim. Faça algo de bom por você: saia daqui e vá ouvir Sérgio Sampaio! As pessoas são uns lindos problemas.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Um conto sobrenatural


Dança a menina ruiva, invocando coisas que já morreram. Alguém se cala e espera espíritos que já dormem a essa hora da noite. De olhos fechados e mãos atadas. Ruas, igrejas, pontos de ônibus e janelas apagadas temem que a ruiva abra sua caixa de segredos. Ela olha e percebe a tensão nos espíritos sombrios que testemunham sua dança. Então ela canta. Notas altas, linhas melódicas estranhas, luzes sobre a sua pele fria. Seu canto incita os cães e os amantes.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Borges


Ando lendo Jorge Luis Borges e é sempre fascinante a sua capacidade de criar ou recriar universos. O livro que emprestei de uma amiga é uma velha edição do Círculo do Livro que reúne os livros “Elogio da Sombra”, “O Informe de Brodie”, “O Livro de Areia” e “História Universal da Infâmia”. Não faz muito tempo, li “O Aleph” e cheguei a escrever algo no blog. Alguns contos têm temática fantástica, outros são gaúchos e outros ainda são situados em momentos obscuros da história da humanidade. Dá pra notar que Borges era fascinado por história e por antigas narrativas ligadas outras culturas, principalmente as orientais.
O último conto que li foi “A Intrusa” que virou um filme interessante na década de 70, dirigido por Carlos Hugo Cristensen, com a Maria Zilda e o José de Abreu. A trilha sonora, se não me engano é do Piazolla. Quando eu era adolescente esse filme passava sempre na TV. Tem um clima estranho e frio, da desolação dos confins dos pampas. O conto de Borges é curto e direto. É mais fácil ler o conto do que ver o filme. Mas o filme vale a pena também.
“Elogio da Sombra” é um livro de poemas. Borges tem mais prestígio como prosador do que como poeta. Não cheguei lá ainda, mas dei uma olhada no prefácio, escrito pelo próprio autor, em que ele atende o pedido de seu editor e fala um pouco sobre sua estética. Achei interessante e reproduzo um trecho aqui:

Não sou possuidor de uma estética. O tempo ensinou-me algumas astúcias: evitar os sinônimos, que têm a desvantagem de sugerir diferenças imaginárias; evitar hispanismos, argentinismos, arcaísmos e neologismos; preferir as palavras habituais às palavras extravagantes; intercalar num relato rasgos circunstanciais, exigidos agora pelo leitor; simular pequenas incertezas, já que se a realidade éprecisa a memória não o é; narrar os fatos (isto aprendi de Kliping e das sagas da Islândia) como se não os entendesse totalmente; recordar que as normas anteriores não são obrigações e que o tempo se encarregará de aboli-las. Tais astúcias ou hábitos não configuram certamente uma estética. Além do quê, descreio das estéticas. Em geral, não passam de abstrações inúteis”.

Na foto, Borges fotografado por Diane Arbus.

domingo, 22 de janeiro de 2012

sábado, 3 de dezembro de 2011

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Vinil rides again



Dia desses, uma amiga que eu não via há muito tempo ligou em casa dizendo que estava voltando de uma viagem pela Europa tinha um presente pra mim do meu irmãozinho de copo e de cruz Pedro “the Caveman”, exilado na Alemanha desde não sei quando.
Estranhei o fato, afinal eu e Pedro mantemos contato freqüente por e-mail e, às vezes, pelo famigerado facebook. Pois bem, Pedro mandou pra mim um EP em vinil, maravilhoso, com quatro remixes malucos de “Palaces of Montezuma”, do Grinderman, a foderosa banda alternativa do Nick Cave.
O vinil é lindão, todo colorido, psicodélico e “Palaces of Montezuma”, que eu já postei, não sei se aqui ou no facebook é simplesmente a melhor canção de amor que ouvi nos últimos anos. Vale por um porrilhão de discos úmidos do Marcelo Dromedário. Dá um pouco de vergonha das coisas fofas que andam saindo na MPB. E olha que eu gosto da Tiê e do Jeneci. Mas a paudurescência nickcavernosa é “another bag”, como diria o Itamar Assumpção (só pra zonear de vez as referências musicais).
Muito bem. Diante de tão maravilhoso regalo, precisei me coçar e dar um jeito nos velhos aparelhos toca-discos, parados lá no quartinho dos fundos há uns dois anos. Criei coragem, fui lá, arrastei para casa um amigo fã de Elvis e integrante de uma dupla caipira, que tem uma eletrônica. Sei que ele não trabalha com as velharias, mas pedi que me ajudasse a dar um destino para meu som. Eram 4 toca-discos 3 em 1 parados. Falei: meu, desmonta tudo e faz um que preste.
Resultado: estou com dois aparelhos em pleno funcionamento, amplificados por um Gradiente velhão, do início da década de 70, que eu nunca tinha conseguida fazer funcionar. Cara...o som é outro. Meu brother Vinícius ficou de queixo caído na hora em que ouviu o som das velhas caixas “National”, esfarelando é verdade, mas com o som que vale por uma parede de “systems não sei o que” que você pode comprar nas Casas Bahia. Soltei o Talkin Book do Stevie Wonder. O sintetizador de “Superstition” no meu novo velho som dá vontade de chorar de tão maravilhoso.
E aí aconteceu. Me apaixonei pela minha velha e abandonada coleção de vinis. Ouvir jazz em vinil novamente...uau! Ainda não deu tempo de fazer isso, mas não vejo a hora. Não tenho muitos discos de jazz, mas o que tem é muito bom: Bill Evans, uma caixona da Ella, Freddie Hubard (“Backlash”, absolutamente sensacional), Dave Brubeck, Ornette Coleman, Dizzie Gillespie, Shorty Rogers, Sonny Stitt e outros. Além de uma daquelas velhas coleções da Abril Cultural com os tradicionais, de Billie a Satchmo, de Duke Ellington a Miles Davis. São uns dez discos, acho.
Não tenho muito blues em vinil. John Lee Hooker, B.B. King, algumas coletâneas, tipo as da Atlantic. Mas de rock tem coisa muito boa: “Four Way Street” e “Déjà vu”, alguns raros de Lou Reed, Paul Macartney e Neil Young, coleções, incompletas mas representativas, de Beatles, Stones, Dylan, Bowie, Kiss e até alguns remanescentes da adolescência metaleira: Iron Maiden, Slayer, Motorhead e os três primeiros do Metallica.
Minha história com os vinis começou aos 8 anos com um disco de Simon & Garfunkel que tenho até hoje. E até hoje me espanto com as grandes canções de Paul Simon. Depois veio a fase Kiss. Cheguei a vender meus discos da banda, mas anos depois recomprei tudo do cara que eu tinha vendido. Não me lembro bem, mas acho que ele teve um lucro considerável.
Vinil é do caralho. E o som dos velhos 3 em 1 são insuperáveis. Não falo daqueles aparelhos podreiras com agulhas de plástico que lançavam no final dos anos 80, nos estertores do vinil. Falho dos velhos 3 em 1 horizontais ou de módulos. Eu matava a saudade desse som na casa do meu compadre Txélos, em Londrina. Ele usa o velho 3 em 1 como amplificador de um pequeno toca discman e o som é glorioso!
Agora estou louco pra entrar uma graninha dos trampos aí pra eu ir às compras nos sebos novamente.
Abaixo, uma lista de dez coisas lindas de se ouvir em vinil:
1 – Stevie Wonder – os clássicos dele: Songs in the Key of Life, Talkin Book, Musico f My Mind
2- Otis Redding – tenho uma coletâneazinha
3- Freddie Hubbard – Backlash – você que me lê e nunca ouviu falar desse disco, acredite nesse velho e cansado rato de sebos: ouça essa porra!
4- Lou Reed – New York – O que são aquelas guitarras de “Romeu and Juliet” e do início de “Busload of Faith”?!
5- David Bowie – Hunky Dory – inteiro, todas as faixas, mas “Life on Mars” é de fuder.
6- Bill Evans e Herbie Mann – Nirvana – acho que nem está entre os melhores desses caras, mas o som é de arrepiar.
7- Bob Dylan – Desire/Blood on the Tracks – sem comentários
8- Beatles – Let it Be - foi o primeiro que comprei deles e tem aquele clima de ensaio em estúdio. “Two of Us”, “I´ve Got a Feeling” e “For You Blue”.
9- Cowboy Junkies – The Caution Horses – disco muito foda, com várias músicas excelentes e uma puta versão pra “Powderfinger”, uma das melhores músicas do Neil Young.
10- Caetano Veloso – Transa – um dos discos da minha vida. A melhor banda que já acompanhou um artista da MPB, com Jards Macalé na guitarra e Tuti Moreno na batera.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O anjo


Um anjo trincado e traído cruzou meu caminho numa dessas tardes de cidade do interior. Ele disse: “corações legendários não vão livrar sua barra no verão”. Dois tiros e anjo despencou do seu jardim suspenso sob o céu azul, diretamente para as formigas e a areia quente. Ainda guardo uma bala pra meter em alguma placa da estrada ou lâmpada de poste. Porque sou estúpido e místico e ainda quero te foder por amor. Quando acenderem as luzes da cidade e as famílias se enclausurarem temendo a noite, vou tomar o lugar do anjo. Escalar a torre da matriz e detonar os sinos sobre as sacanagens silenciosas de cada dia.

sábado, 3 de setembro de 2011

São Vicente


Sinto saudades do tempo em que eu ria com as comédias americanas. Agora meus sonhos imaginam a dor do peixe quando retiram suas escamas. Os pedaços brilhantes de tecido devastado pela lâmina. A solidão de minha mãe e o tédio do cão emparedado.
Perdi alguma coisa em algum dia ensolarado de trabalho honesto. E as moléstias aderiram ao meu corpo, como o calor do sol ficava na pele queimada depois da praia, em verões enterrados sete palmos abaixo do chão do quintal.
Em São Vicente. Em 1979. No tempo das comédias e dos desenhos animados. Uma mancha na parede gelo foi vida também e até voou. Amanhã sai com pano molhado.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Thurston Moore

O novo cd solo de Thurston Moore é bom pra caramba.Segue aí um vídeo e uma letra. Vale conhecer o trabalho completo.

Blood Never Lies


Every time they come for you
You know it's time to run
Everybody knows it's true
How your love has come undone

Now he has his chance to take
And he will take you out of here
Take you to your secret state,
Where blood is light, blood is clear
Oh the blood is clear,
Oh the blood is clear

Every time they take you away,
He knows you're never gone
You know you stole his heart away,
And he falls into the freezing sun
Now he has to kidnap you,
And keep you bound in endless light

And you know he never lets you leave
'Cause blood is clear, it never lies,
Oh blood never lies,
Oh blood never lies

And you know he never lets you leave
'Cause blood is clear, it never lies
Oh blood never lies,
Oh blood never lies,

And you know he'll never let you leave
'Cause blood is clear, it never lies
Oh blood never lies
Oh blood never lies
Oh blood never lies
Oh blood never lies

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Jazz from hell ou... estou só tentando ser legal comigo mesmo esta noite


Eu não ligo mais para o que você fala.
Não me importo com o preço da gasolina ou com os filmes do Oscar.
Não gosto de circo, escolas de circo e odeio especialmente os malabaristas,
Estou cagando para galãs adolescentes, praias com ondas artificiais, o fim das estradas de ferro, a decadência do capitalismo, a revitalização do centro histórico, as pontes de alta engenharia, as cordas oxidadas do meu violão, os livros de história, o realismo fantástico e as patas leves dos políticos.
Se quiser me achar, estou sozinho no quintal.
Só me interessa o vento e o mato que cresce no meu quintal.
Mulheres jovens e movimentos sociais não me enganam mais.
Na música, nada foi melhor que Mingus.
Detesto padres.
Já estudei as teorias da comunicação e a legislação processual brasileira mas esqueci tudo.
Assim como esqueci o sabor de algumas bocas e as letras de todas as canções.
Os amigos morreram pouco antes do computador explodir.
Não há mais chance.
Não quero esperar por ninguém.
E que evaporem as feministas, o futebol, os workaholics, os objetos de decoração, os colares de sementes, os gordos tocadores de bongô, os quadros negros, as frases de efeito, os grevistas, os espíritos evoluídos, as bananeiras e tudo que puder ser classificado como monumental.
O resto é mar, diz a velha canção.
E o mar pode ser silencioso em suas profundezas.
Deixo a superfície para meu filho e para os que ainda acreditam no verão.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Os infernos rock´n roll de Mario Bortolotto


Quem nunca na vida quis tocar numa banda de rock? Acho que esse desejo coletivo explica o sucesso do “air guitar”, provavelmente um dos esportes mais praticados no mundo e, sem sombra de dúvidas, o número 1 aqui em casa.
O ator e dramaturgo Mario Bortolotto gosta de música. Ele canta em duas bandas muito legais, a Tempo Instável e a Saco de Ratos. Mas o gosto pelo rock´n roll e o blues vai além. A música está muito presente em sua literatura também. Arrisco-me a dizer que se alguém definir Bortolotto como um “escritor rock`n roll” ele vai curtir ou, pelo menos, não vai ficar puto.
Em “DJ – Canções pra tocar no inferno”, o bluesman escritor dá uma de DJ literário e solta sua seleção de contos baseados em canções, algumas clássicas e outras obscuras, de gente como Ray Charles, John Lennon, AC/DC, George Thorogood e ...Ivan Lins. Sim...o integrante da trinca de chatos mais notória da MPB (com Guilherme Arantes e Oswaldo Montenegro – e o tal de Marcelo Camelo louco pra fazer parte) também teve uma música que virou conto. Como se deduz desse set list, além de visitar os infernos do submundo, da solidão e da miséria humana, Bortolotto não dispensa o humor nas pequenas narrativas.
Como em outros textos do autor, a força dos diálogos chama a atenção. Em “Stand By Me”, eles ressaltam o nonsense de uma cena pós-estupro. No delicioso “I Drink Alone” parece que dá pra ver o próprio Bortolotto aprisionado em um pesadelo com mauricinhos e patricinhas numa “baladinha” na Vila Madalena. Agora imagine uma mesa de bar no além, com Leminski e Itamar Assumpção batendo papo até a chegada de um verborrágico Wally Salomão em “Knockin on Heaven´s Door”. “Given the Dog a Bone” também está entre os mais engraçados.
Não sei se viajei demais na minha leitura, mas o humor, que sempre foi uma marca do autor, parece mais presente ou, de alguma forma, mais solto nos textos mais novos. A escória, o refugo das cidades, os amargurados e solitários estão lá. Mas de alguma maneira estão mais à vontade, menos armados do que acontece com os personagens de textos como “Homens, santos e desertores”, peça escrita em 2002. Isso não quer dizer concessão a nada. Talvez seja apenas um apreço maior pela comicidade, pelo absurdo.
E em meio ao turbilhão rock´n roll de Bortolotto surge um zumbido de algo novo na trilogia “O Evangelho segundo Madalena”. A ambientação dos textos nos bastidores de um time de futebol pequeno do Rio de Janeiro nos anos 50 soa incomum. Mas Bortolotto se sai muito bem, mostrando um dos aspectos que me atraem no seu trabalho (e na literatura em geral) que é dar voz, sentimentos e idéias a vidas aparentemente insignificantes. Li pela net que alguém comparou os “Evangelhos” a Rubem Fonseca da fase “A Coleira do Cão” e Bortolotto não apenas não negou como revelou ter lido tudo do mestre carioca.
Mas é o Bortolotto de sempre, em textos recheados de referências pop, com os absurdos, as dores, os amores, e todas as ocorrências repugnantes ou engraçadas, redentoras ou desvairadas que alimentam o brilho falso nos olhos dos homens. Dá pra ler inteiro numa madrugada insone. Como um bom disco de rock.
Escrito ao som de “Secret, Profane or Sugar Cane”, de Elvis Costello.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O primeiro festival de blues

Em 1989 eu tinha dezesseis anos. Foi o ano do primeiro festival internacional de blues, realizado em Ribeirão Preto, na Cava do Bosque. Fizemos uma barca eu, o meu cumpadre Txélos e os irmãos Fabrício e Sujeira que tinham família por lá.
Pegamos um ônibus e chegamos na cidade numa sexta-feira, fim de noite. Caminhamos da rodoviária até a casa em que ficaríamos hospedados. Fomos bem recebidos pelos avós de nossos amigos e aí começou o deleite. Fabricio e Sujeira tinham um tio que morava lá e, na época, estava viajando pela Europa. Fomos instalados no quarto dele.
O detalhe: o cara tinha a maior coleção de discos que já vi até hoje. Eram armários e armários, guarda-roupas e prateleiras cheias de som. 90% das coisas em vinil, mas ele já tinha muitos CDs. Nessa época acho que eu ainda nem tinha visto um CD. Ouvíamos os clássicos vinis e as infalíveis, ou melhor, muito falíveis, fitinhas cassete.
Foi, portanto, uma viagem absolutamente musical. Além do festival de blues, passamos todo aquele final de semana ouvindo sons, grande parte deles coisas sobre as quais eu já havia lido mas que na minha cidade simplesmente era impossível encontrar. Foi lá que ouvi Lou Reed pela primeira vez. Voltei pra casa com uma fitinha com o Legendary Hearts. Com o passar dos anos a fita acabou. Só recentemente eu baixei da net esse disco. Não é dos melhores do Lou Reed mas tem valor afetivo. Gosto de ouvir “Rooftop Garden” e outras para lembrar daquela época.
Também foi na casa do tio dos meus amigos que ouvimos Mutantes e Arnaldo Baptista pela primeira vez. Lembro que o cara tinha uma cópia do “Lóki” autografada pelo Arnaldo. Vai vendo. Voltei de lá com uma fitinha com “Mutantes e seus Cometas no País do Baurets”. Detalhe: acho que esses discos estavam totalmente fora de catálogo na época. Se não me engano, as reedições da Baratos Afins vieram um pouco depois.
Além desses sons o tio deles tinha uma coleção impressionante de rock progressivo. Discografias completas de Yes, Emerson, Lake & Palmer, King Crimson, Genesis, Pink Floyd, Jethro Tull e até bandas menos conhecidas como Gentle Giant e Focus. Esse tipo de som não me fez a cabeça na época e ainda não consigo engolir. Na verdade, gosto de muitas coisas do Pink Floyd e de algumas do King Crimson e do Jethro Tull. O resto é muito punheta. Yes é uma das piores coisas que existem sob o nome de rock.
Além dos grandes sons descobertos lá, teve o festival propriamente dito. Naquela edição, tocaram Buddy Guy, Junior Wells, Etta James, Magic Slim. O show que vimos teve André Cristovam abrindo e Albert Collins, "the master of the Telecaster" como atração principal.
O blues parecia que ia estourar no país. André Cristovam havia acabado de lançar “Mandinga” e o Blues Etílicos “Água Mineral”. Os dois discos se tornaram clássicos do blues nacional. Se não me engano, foram lançados pela Eldorado.
Lembro poucas coisas das apresentações. Havia um ótimo público e todos cantavam as canções do André Cristovam, principalmente “Mandinga”. Mas havia “Confortável”, versão para “Built for Confort” do Howlin Wolf, “Dados Chumbados” e uma que falava do roubo do Cristo Redentor.
Do show do Albert Collins lembro menos. A guitarrista base era uma menina loira de boina e o som foi muito mais pauleira do que no show do André Cristovam.
Mas foi uma viagem do caralho. Num período que ando louco pra viajar, sair da rotina e não tenho grana nem tempo é legal lembrar do Festival de Blues. Uma das tantas viagens musicais que fiz. Talvez a primeira. Elas sempre valeram a pena.
Abaixo, sons de André Cristovam e Albert Collins, só pra relembrar.