sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A América, por Kerouac


“... América, essa palavra, o som é o som da minha infelicidade, a articulação da minha velha e estúpida tristeza – minha felicidade não se chama América, ela tem um nome secreto menor mais pessoal mais risonho – a América está sendo procurada pela polícia, perseguida em Kentucky e Ohio, dormindo com ratos pelos currais e uivando os shingles metálicos que revestem os silos escuros dos fugitivos, é a figura de um machado na True Detective Magazine, é a noite impessoal nos cruzamentos e entrocamentos onde todo mundo olha para os dois lados, para os quatro lados, ninguém dá a mínima – a América é onde você não pode nem chorar por você mesmo – (...) – A América é o que pôs na alma de Cody Pomeray o ônus e o estigma – que na forma de um policial cagou ele a pau numa salinha dos fundos até ele falar sobre um troço que nem é mais importante – a América (MÁFIA DE JOVENS SEXO DROGAS CARROS!!) é também o neon vermelho e as coxas no motel barato – É onde as pessoas, as pessoas, as pessoas choram e mordiscam os lábios pelos bares e nas camas solitárias – Tem estradas malignas por trás de tanques de gasolina onde cães assassinos rosnam atrás de cercas de telas e os carros da radiopatrulha de repente surgem como carros de fugitivos mas de um crime mais secreto, mais sinistro do que as palavras podem descrever – É onde Cody Pomeray aprendeu que as pessoas não são boas, que elas querem ser más – onde aprendeu que elas querem fugir e brigar, e que em vez de fazer amor elas rosnam – a América transformou o rosto de um jovem garoto em ossos e com tinta escura pintou olheiras nele, fez das maçãs do rosto uma pasta branquicenta e entalhou vincos naquela fronte marmórea e transformou a esperança cheia de vida na sabedoria silenciosa de lábios grossos que não dizem nada, nem para si mesmo no meio da maldita noite – o tilintar dos pires na triste triste noite – O trabalho gorgolejante de alguém na pia de uma lanchonete (na aridez vazia do Colorado a troco de nada) – Ah e ninguém se importa mas o coração no NOSSO peito vai reaparecer quando os caixeiros- viajantes morrerem todos. A América é uma latrina solitária”.
(Trecho de Visões de Cody, de Jack Kerouac, na tradução de Guilherme Braga, para a L&PM)

7 comentários:

antonio luiz gomes disse...

técnico de passar trechos dele para o computador e para meu blog.para "dividir" estas cenas históricas com meus amigos e amigas seguidoras. Vá em frente,e um bom 2010 para você.
Antônio,de Goiânia,Goiás -Brasil.
Janeiro de 2010.

F. Reoli disse...

Salve Kerouac. Aliás, preciso desenterrar alguns exemplares da estante dia desses. Puta vontade reler. Abração!

Faixa-Amarela. disse...

Rapaz, nunca li o Kerouac direito e sei que devo estar perdendo coisa boa. Na verdade os beats nao fizeram minha cabeca e nem ocupam muito espaco na minha estante. Mas sei que estou perdendo fatia viva de coisa boa. Nao dá pra ter/ler tudo o que é bom, nao é ?
Lembrando de cabeca acho que tenho uns cinco livros desta turma toda, todos bons, mas o do Kerouac é um secundário, digo nao é o "On the Road". Um dia ainda lerei, nunca é tarde. Ontem lendo aquele jornal curitibano de literatura "O Rascunho", li uma crítica de um norte-americano sobre Allen Ginsberg. Vale a pena conferir. O link é o seguinte: http://rascunho.rpc.com.br/index.php?ras=secao.php&modelo=2&secao=25&lista=0&subsecao=0&ordem=3270.

Sejam bem -vindos de volta. Salve o Sérgio, Aline & Henrique. Três Urras demenciais: URRA ! URRA ! URRA!

Marcador de Livro. disse...

Bel Bel, a mulher das tangenias magnéticas, we miss you. Apareca. Aparecam.

Bel disse...

Estou aki marcador, estou curtindo, sabe quem?????? Quem? Quem?? PEDRO, meu netinho!! Bjos. a todos os passantes dessa passarela louca!!

Pedro. disse...

Porra sério mesmo !!!! Três urras magnéticos demenciais ao seu netinho com nome bonito. URRA !! URRA !! URRA !!. Mande fotos, conte notícias, dê os parabéns.

Um grande enorme abracao transatlântico.

El librero.

Aline disse...

Bel!!! Caraca!!! Parabéns!!! Desejo as boas vindas ao recém-chegado ao nosso planetinha e mando um super abraço apertado na vó do ano!

Beijocas, Aline