sábado, 17 de outubro de 2009

Walter Franco, Paulo Leminski, Charles Bukowski e filminhos na garoa

Walter Franco, Leminski e Bukowski. Cada um tem sua singular trajetória na vida e nas artes. Em comum, a poesia. E tudo é poesia, como diz Walter Franco. O resto é prosa. Meu último final de semana teve um pouco dos três.
Fui ver o show “Raça Humana” de Walter Franco, no Auditório do Ibirapuera. Já tinha visto o cara algumas vezes, sempre com voz e violão e é sempre ótimo e intenso. Com banda o bicho pegou mais ainda. Duas guitarras, bateria, percussão e o baixo histórico de Willy Verdaguer, puta músico, que foi dos Beat Boys. Acompanhado dessa banda poderosa, Walter visitou a sonoridade experimental e às vezes pesada dos seus discos “Ou Não” e “Revolver”. Aquele lance que ele faz tão bem de passar da sutileza, dos silêncios, ao peso e ao grito primal, sempre fica legal com voz e violão. A banda ampliou essas possibilidades sonoras. Temas como “Respire Fundo” e “Tutano” evidenciaram isso.



Não sei se todos se ligam, mas essa coisa do Walter de passar da delicadeza para aquele quase rugido, aquele canto urgente, como se fosse um náufrago gritando por socorro é muita influência do John Lennon. Ouça “Canalha” e “Mother”, as duas com o grito primal dando o tom das interpretações. Ou então compare “Feito Gente” com “I Want You (She´s So Heavy). A influencia de John Lennon também está na capa do disco “Revolver”. Ele caminhando por uma rua de São Paulo, de cabelos compridos e mãos nos bolsos do terno branco, evoca o Lennon da capa de “Abbey Road”. São dois criadores. Os dois, como disse o Augusto de Campos, se equilibrando entre a paz e a turbulência.
Uma atração especial do show foi ver o Alberto Marsicano tocando sitar. O som daquela porra ao vivo é uma coisa muito louca. Fiquei imaginando que aquele som deve turbinar qualquer viagem, as lisérgicas e as espirituais. Ele acompanhou Walter e a banda em “Govinda” e “Zen”.
Às vezes fico meio de saco cheio daquela coisa de “tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo”. O cara tem algumas canções fudidas e para dizer para as pessoas quem é Walter Franco você tem que citar essa. Que é legal e tal... é uma coisa dele mesmo, não é fake. Mas eu preferia poder dizer por aí que Walter Franco é o cara que compôs “Mixturação”, que aliás ele tocou no show e quase fez o teto cair...
Walter também tocou “It´s only life, but I like it”, de Leminski, fazendo a conexão com a outra face da moeda, os Rolling Stones. No dia seguinte ao show, visitei a Ocupação Paulo Leminski no Itaú Cultural. Cara... nunca vi uma instalação tão caprichada, cheia de ambientes temáticos e tal. Muitos, muitos, muitos textos do Leminski pelas paredes do Itaú Cultural... até nos banheiros... Dá pra passar o dia por ali. Confesso que eu não consigo ficar lendo poesia escrita na parede com som rolando no fundo e um monte de gente passando na minha frente ou conversando do meu lado... mas mesmo assim valeu a pena visitar. Os vídeos são muito legais. Várias entrevistas com o Leminski. Em vários ele fala aquela coisa da poesia ser um “inutensílio”, ou seja, não servir para nada, apenas para o prazer de quem lê ou sente aquilo que o poeta diz e por isso mesmo, além de inútil a poesia é fundamental... O título de um dos vídeos é “Polaco Loko Paca” que eu e a Aline adotamos como apelido do nosso filhote, branquelinho. Nosso projeto de furacão voando pela casa.




Também resolvi adotar um texto do Leminski como epitáfio. Já avisei a Aline que quando eu for comer capim pela raiz pode escrever na lápide “Quem vai embora não embolora”.
E velho Buk com isso? Bão... arrematei, com um pequeno sangramento no orçamento, o “Textos Autobiográficos” que foi lançado agora. Ele foi pra fila das leituras. Tô no meio de “A Ciência e a Filosofia dos Modernos” que leio por dever de ofício. Depois tem o “Vida de Escritor” do Talese e aí chego no Bukowski.



Ah... por fim...passei nas banquinhas dos piratas da Augusta e arrematei vários filminhos. Cada filme dez reais ou três por vinte e cinco. Peguei “Amarcord”, “E La Nave Va”, “Querelle”, “A Noite”, de Pasolini, “Zabriskie Point” e um documentário sobre o Kerouac. Cinquenta paus bem gastos, eu achei...
É isso... “tudo absurdo, mas tá tudo bem”.

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